O décimo segundo artigo do dossiê “Fim da Escala 6×1 e Redução da Jornada de Trabalho”, organizado pelo Organizado pelo Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) em parceria com as centrais sindicais, aborda a questão ecológica sob o tema “Trabalhar menos para que a Terra descanse”. O artigo é assinado por Cesar Sanson.
Sanson propõe que a luta por jornadas menores precisa incorporar um terceiro pilar: o meio ambimente. Ao lado da defesa clássica — trabalhar menos para que mais pessoas trabalhem e para viver melhor — soma-se agora a necessidade de reduzir a pressão humana sobre o planeta.
Da Revolução Industrial ao século 21: uma luta em transformação
O autor resgata a longa trajetória da reivindicação por jornadas menores.
Desde o século XVI, trabalhadores já se organizavam para limitar a exploração, luta que se intensificou com as jornadas extenuantes da Revolução Industrial descritas por Marx.
No século XX, o lema de Robert Owen — “oito horas de trabalho, oito horas de lazer, oito horas de descanso” — consolidou a jornada de 8 horas como referência mundial.
Mas o contexto atual, marcado pelo agravamento das mudanças climáticas, desloca o debate para novas fronteiras.
A crise ecológica como novo imperativo
Com base nos relatórios do IPCC, Sanson destaca que os impactos ambientais provocados pela ação humana atingiram níveis críticos. O planeta já ultrapassou limites e vive o risco de um “ponto de não retorno”. O modelo de desenvolvimento baseado em crescimento ilimitado e consumo intensivo — fortalecido desde a Revolução Industrial — é o alicerce da crise ecológica contemporânea.
Nesse cenário, o autor argumenta que a redução da jornada não é apenas uma pauta trabalhista: é uma necessidade civilizatória.
Trabalhos verdes e Programa de Garantia de Emprego
Sanson defende ainda que a redução da jornada deve ser acompanhada pela criação de empregos verdes: atividades remuneradas que cuidam da natureza e reduzem danos ambientais. Ele sugere incentivos fiscais às empresas que adotarem esse modelo.
O autor também dialoga com propostas da Teoria Monetária Moderna para um Programa de Garantia de Emprego (PGE), no qual o Estado criaria postos de trabalho voltados ao cuidado ambiental, como:
- reflorestamento,
- recuperação de nascentes e matas ciliares,
- drenagem urbana sustentável,
- preservação de rios, lagos e praias,
- hortas e jardins comunitários,
- saneamento básico em áreas vulneráveis.
A lógica é clara: trabalho, renda e preservação ambiental precisam caminhar juntos.
Um novo horizonte para o mundo do trabalho
O artigo conclui que a redução da jornada deve ser tratada como uma política estratégica para:
- melhorar a saúde e o bem-estar,
- gerar empregos,
- mitigar a crise climática.
O objetivo final é duplo: garantir o descanso da Terra e reconstruir a relação entre trabalho, vida e ecologia.
Em um mundo pressionado por múltiplas crises, a jornada de trabalho deixa de ser apenas uma questão sindical e passa a ser um ponto de partida para repensar o futuro.
Leia aqui o artigo:
Trabalhar menos para que a Terra descanse