Os Metalúrgicos do ABC acompanharam na última sexta-feira, 31, um dos anúncios mais simbólicos do novo ciclo da política industrial brasileira. Na fábrica Anchieta, em São Bernardo, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) oficializou um financiamento de R$ 2,3 bilhões à Volkswagen do Brasil para acelerar o desenvolvimento de veículos híbridos e ampliar as exportações. O investimento integra a linha BNDES Mais Inovação, voltada a tecnologias sustentáveis e de alta competitividade.
O ato contou com a presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O Sindicato foi representado pelo presidente, Moisés Selerges, e pelo diretor administrativo, Wellington Messias Damasceno, que acompanharam de perto o encontro.
“É importante reconhecer o valor de termos um governo com sensibilidade para compreender a necessidade de fortalecer a indústria. O país não avança, e não teria uma empresa como a Volkswagen instalada aqui, sem diálogo, articulação e compromisso do governo federal com a pauta industrial”, destacou Wellington. Segundo ele, o setor automobilístico representa muito mais do que produção e empregos: “É uma estrutura que envolve fornecedores, tecnologia, engenharia e exportações, com impacto direto no desenvolvimento social”.
O dirigente lembrou que o ciclo de acordos de longo prazo com a Volkswagen teve início em 2012, foi reafirmado em 2023, quando se viabilizou a produção dos híbridos na Anchieta, e acaba de ser renovado em 2025. “Esse compromisso mostra que é possível unir previsibilidade empresarial, estabilidade no emprego e avanço tecnológico. A negociação coletiva é parte essencial disso”.
Caminho para o futuro
O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin ressaltou que o financiamento simboliza o que o governo Lula define como NIB (Nova Indústria Brasil), um projeto de reindustrialização com foco em inovação e sustentabilidade. “Temos hoje uma indústria inovadora, com produtos e engenharia nacionais que ganham o mundo. Parte da engenharia da Volkswagen alemã é feita no Brasil. Isso mostra a competência e o talento dos nossos profissionais”, afirmou.
Alckmin destacou ainda que os R$ 2,3 bilhões do BNDES fazem parte de um plano mais amplo de investimentos da montadora, que totaliza R$ 16 bilhões até 2028. “O carro híbrido flex é símbolo desse novo ciclo: um veículo verde, produzido no Brasil, com 80% de reciclabilidade e emissão inferior a 83 gramas de CO² por quilômetro. É desenvolvimento econômico aliado à responsabilidade ambiental”, completou.
Rota tecnológica
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, classificou o investimento como estratégico. “Quando se observa uma montadora, enxerga-se o final de uma longa cadeia produtiva que envolve autopeças, siderurgia, plásticos, eletrônica e química. Por isso, a indústria automobilística é decisiva para o processo de industrialização”, afirmou.
Para Mercadante, o Brasil definiu uma rota tecnológica própria. “Nosso caminho não é o fóssil nem o elétrico puro. O futuro do país é o híbrido, com mais autonomia e infraestrutura já consolidada”. Do total financiado, cerca de R$ 600 milhões serão destinados à tecnologia e inovação, com parte significativa aplicada na planta de São Bernardo.
Nova sala da representação
No mesmo dia, a fábrica Anchieta viveu outro momento simbólico: a inauguração da nova Sala Central da Representação dos Trabalhadores, na Ala 3. O espaço abriga uma exposição sobre Solano Trindade, apoiada pelo programa sindical Uma Hora para o Futuro.
O CSE (Comitê Sindical de Empresa) na montadora, Charles Aurélio de Jesus Lima, o Tuiuiú, destacou que o local representa uma conquista coletiva. “As salas da Comissão de Fábrica distribuídas pelas áreas são uma ferramenta poderosa. Só o fato de podermos tirar o trabalhador da linha para conversar já demonstra o respeito e a segurança que o espaço representa”, disse. Ele também lembrou a emoção das famílias presentes: “Ver pais e filhos compartilhando o mesmo chão de fábrica e a mesma história de luta foi especial”.
Durante a cerimônia, Aloizio Mercadante recordou as greves dos anos 1970 e a criatividade do movimento sindical. “Táticas como a Vaca Brava e os Golas Vermelhas marcaram um tempo em que se construíam direitos com coragem e determinação, a mesma coragem que move os dirigentes de hoje”, destacou. Ao relacionar passado e presente, acrescentou: “Hoje nossa luta é pela reindustrialização. O BNDES já financiou R$ 252 bilhões, e o Brasil voltou a crescer, com a menor taxa de desemprego da história e aumento real do salário mínimo.” E concluiu: “Essa história é uma corrida de bastão. Agora, o Tuiuiú e a nova geração assumem o compromisso com o futuro”.
Histórico membro da Comissão de Fábrica, José Raulino de Lima celebrou o novo espaço como símbolo de continuidade. “O novo espaço é mais do que necessário, é um avanço na relação com a empresa. A sala é, na verdade, de todos os trabalhadores”, afirmou. “Esses companheiros e companheiras têm muitas competências. O espaço é merecido e expressa a continuidade de uma história construída com coragem e solidariedade”.
Presenças e homenagens
Também participaram o vereador de Santo André e ex-coordenador da representação na montadora, Wagner Lima; o presidente do Sindmetau (Sindicato dos metalúrgicos de Taubaté e Região), Cláudio Batista, o Claudião; o presidente da FEM-CUT/SP (Federação Estadual dos Metalúrgicos), Erick Silva; o coordenador da Comissão de Fábrica na Volkswagen de Curitiba (PR), Daniel de Camargo; e Leandro Lemos, diretor de produção da planta Anchieta. Um mural instalado na nova sala permitiu que todos os presentes deixassem suas assinaturas na parede, símbolo de pertencimento e continuidade, incluindo a de Mercadante ao lado dos nomes que seguem escrevendo, no chão da fábrica e na história do país, novas páginas da luta e da reconstrução industrial brasileira.