A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo recebeu, na tarde desta quinta-feira (31), uma audiência pública para debater a respeito da saúde mental dos trabalhadores de bancos e instituições financeiras. Organizado pelo deputado Luiz Claudio Marcolino (PT) em parceria com o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região e a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo (Fetec), o evento proporcionou esclarecimentos de especialistas sobre o tema e contou com a participação de trabalhadores da categoria, que expressaram suas principais queixas sobre o cotidiano da profissão.
"Não só na categoria dos bancários, mas em todos os tipos de profissões, o número de afastamentos por questões de saúde mental vem aumentando muito nos últimos anos. Isso é fruto da grande pressão nos locais de trabalho, cobrança excessiva de metas, falta de perspectiva de carreira, desvalorização salarial, entre outros fatores", disse o parlamentar.
"Queremos discutir com profissionais especializados nessa área, para que possamos dialogar com o Ministério do Trabalho e regulamentar uma legislação que proteja o trabalhador e se preocupe com sua saúde durante o exercício da carreira", completou Marcolino.
Causas
Com o intuito de evidenciar as causas dos afastamentos por saúde mental entre os bancários, a secretária geral da Fetec, Ana Lucia Ramos, participou da audiência. "Depressão, síndrome do pânico e ansiedade são os diagnósticos mais comuns que observamos entre os funcionários. Sabemos que a cobrança diária é muito grande, e se não houver tratamento e prevenção dentro do local de trabalho, o Estado terá de tomar conta do problema. Por isso, construir uma legislação estadual é um jeito de forçar os bancos a prestarem atenção nesses casos, muito mais do que ocorre hoje em dia", pontuou ela.
Complementando esse ponto de vista, o secretário de saúde e condições de trabalho da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, Mauro Sales, apontou as metas "irreais" estabelecidas pelas instituições como as principais causas dos transtornos entre os trabalhadores.
"As metas abusivas que caem sobre os bancários precisam urgentemente ser visadas e combatidas, e existem relatos e pesquisas suficientes para provar que esse é um dos grandes problemas. É necessário responsabilizar os bancos por não cumprir as normas de saúde. Queremos uma fiscalização efetiva por parte do Ministério do Trabalho, um serviço de saúde ético e transparente para os funcionários e, principalmente, denunciar as causas dos problemas de saúde, e não apenas tratar as pessoas quando já for tarde", afirmou Sales.
Problema estrutural
A médica e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, foi outra a contribuir com o debate. Em seu tempo de fala, ela apresentou pesquisas que apontam a omissão das instituições empregadoras em relação ao estado mental dos funcionários como o problema central não só da categoria dos bancários, mas do mercado de trabalho nacional como um todo.
"Para quem estuda as doenças mentais relacionadas ao trabalho, existe um consenso de que há uma ocultação de acidentes relacionados ao trabalho, incluindo os afastamentos por adoecimento psicológico. Essa é uma característica estrutural do mercado de trabalho brasileiro, portanto, tornam-se cada vez mais necessários projetos do terceiro setor e articulação com o Legislativo, afinal de contas, a fiscalização da lei é o maior empecilho, visto que ela existe, mas as empresas não cumprem porque não querem manchar a própria imagem, tampouco cumprir a tributação à risca", explicou a pesquisadora.
Para a advogada especialista em direitos humanos, Maria Leonor Poço Jakobsen, no entanto, o debate sobre saúde mental no ambiente de trabalho trabalho é mais abrangente, inclusive a nível internacional. "Entre 2019 e 2022, a OMS lançou diretrizes para enfrentar o problema da violência no ambiente trabalhista, como assédio moral e sexual. Antigamente, esses casos só eram levados em conta quando aconteciam repetidas vezes com uma pessoa específica. Hoje, já se sabe que basta uma vez para ser significativo. Saúde e trabalho são direitos fundamentais do ser humano, que não pode ter sua dignidade ferida em hipótese alguma. No caso dos bancários, há um aumento significativo do adoecimento mental na categoria, e isso se dá muito pela falta de ambientes que respaldam esses trabalhadores", concluiu.
Assista à audiência, na íntegra, na transmissão feita pela Rede Alesp: https://youtu.be/seGVerE0MGM