O prazo está se esgotando: as tarifas de 50% para importações brasileiras, anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem entrar em vigor nesta sexta-feira, dia 1º de agosto. O governo brasileiro busca um acordo.
Como forma de chantagem, Trump usou a ameaça para tentar pressionar o Brasil a favorecer Jair Bolsonaro (PL), investigado por tentativa de golpe, sob a alegação de que o ex-presidente sofre perseguição política.
Porém, especialistas veem nos ataques uma manobra para favorecer empresas dos EUA impactadas pelo avanço do PIX e para garantir acesso às “terras raras”, minerais estratégicos para as indústrias de tecnologia e defesa. O Brasil é o segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China.
Os Metalúrgicos do ABC chamam atenção para a defesa da soberania nacional, a necessidade de negociação e para o absurdo da decisão de Trump. “É inacreditável que o governo de um país taxe o outro em 50%, sendo que as relações comerciais são superavitárias, eles vendem mais para o Brasil do que o Brasil vende para os Estados Unidos. O Brasil é um parceiro estratégico, essa relação comercial tem mais de 200 anos, não é racional fazer isso com um parceiro comercial”, destacou o presidente do Sindicato, Moisés Selerges.
“É abominável Trump achar que manda em outro país. Ele não quer respeitar a nossa democracia, os poderes constituídos. Imagine se um país fizesse isso com os Estados Unidos, qual seria a resposta deles?”, questionou.
Negociação
“É como se fosse um processo de negociação numa fábrica, com o qual estamos acostumados. A gente deseja alguma coisa, os empresários querem outra. E, através do diálogo, chegamos a um bom acordo, em que trabalhadores e empresas ganham. O governo tem que fazer esse processo sem abrir mão da soberania, sem negociar o inegociável, sem ceder”, defendeu Moisés.
“O movimento sindical e os movimentos sociais devem defender a soberania do país. A soberania é uma coisa da qual não se abre mão. Se abrir mão, viramos reféns”, completou.
Verdadeiros patriotas
“Nessa taxação do governo Trump, desmascarou, na verdade, aquilo já sabíamos, aqueles que se dizem patriotas, se mostram traidores da pátria. Eles cometem o crime de lesa-pátria a partir do momento em que Eduardo Bolsonaro vai para os Estados Unidos articular contra o próprio país dele”.
“Aqueles que acordam cedo, que vão para o seu emprego, que buscam a dignidade para a sua família, que buscam o bem-estar, a educação para os filhos, esses são os verdadeiros patriotas”.
Exportações do ABC
Estudo feito pela subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato, avaliou os impactos das tarifas na região. Segundo a nota técnica “As Tarifas Brasileiras” de Trump, em 2024 o ABC exportou US$ 750 milhões aos EUA — quase 80% da indústria metalúrgica. No total, os sete municípios exportaram US$ 5 bilhões, com 13,4% destinados aos EUA, que, por sua vez, representaram 11,2% das importações.
“Estamos diante de uma ofensiva externa que ameaça diretamente a nossa indústria, os empregos do nosso povo e a soberania nacional. A guerra comercial iniciada pelo governo Trump não pode ser enfrentada com omissão. O Grande ABC, berço da luta operária e da produção de alto valor agregado, está na linha de frente desses impactos. É inadmissível que medidas unilaterais tomadas lá fora ditem o futuro do nosso desenvolvimento”, alertou Moisés.