No momento em que os EUA ameaçam taxar produtos brasileiros em 50% e tentam intervir nos assuntos internos do país, deputados da extrema direita protagonizaram uma cena vergonhosa, nesta terça-feira (22). Em plena Câmara dos Deputados, ergueram uma bandeira em apoio ao presidente estadunidense, Donald Trump, com seu slogan ultranacionalista “Make America Great Again” (Faça a América grande novamente).
A cena caricata ocorreu durante uma tentativa de reunião da Comissão de Segurança Pública, convocada por bolsonaristas para aprovar moções de louvor ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo com as atividades legislativas suspensas durante o recesso parlamentar.
A manifestação não pegou bem. Alguns deputados presentes, ao perceberem o impacto negativo da iniciativa, apressaram-se em retirar a bandeira, apesar de não admitirem o absurdo. Disseram apenas que o presidente norte-americano “não era o foco da reunião”.
Nas redes sociais, 77% das postagens sobre o episódio foram críticas. Segundo levantamento do analista de redes Pedro Barciela, divulgado pelo ICL Notícias, apenas 18% saíram em defesa do ato. Outros 5% ficaram divididos. As críticas classificaram a manifestação como “traição à pátria”, “crime de lesa-pátria”, “vergonha nacional” e “ato antidemocrático”. Houve quem avaliou o gesto como submissão ideológica e um “patriotismo invertido”, além de outras expressões como “vendilhões da pátria”, “patriotários” e “capachos dos EUA”.
Traidores da pátria
O episódio escancara, mais uma vez, a postura subserviente e entreguista da ultradireita diante do imperialismo norte-americano. A farsa do discurso “patriótico” cai por terra e o bolsonarismo mostra-se cada vez mais como um capacho de Trump, disposto a trair os interesses nacionais para salvar seus líderes golpistas e agradar seus aliados estrangeiros.
Além do ataque à soberania, a retaliação dos EUA às exportações brasileiras ameaça diretamente milhares de empregos no Brasil. Embora Trump tenha alegado uma suposta “injustiça comercial” nas relações bilaterais, os dados mostram o contrário: o Brasil acumula déficits comerciais com os EUA há mais de 16 anos, em que o país exporta produtos primários e importa bens industrializados e de alto valor agregado, reflexo de uma localização na divisão mundial do trabalho subordinada e dependente. A nova taxação aprofunda essa lógica de dominação.
Mas, sem qualquer pudor, os mesmos que tentaram um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas eleições de 2022, atacam a soberania nacional e conspiram contra as instituições do Estado brasileiro.
Desesperados diante da iminência do julgamento que pode levar Bolsonaro e outros golpistas à prisão, tentam articular todo tipo de reação. Mais do que homenagens a Bolsonaro e Trump, articulam pautar a proposta de anistia aos golpistas na volta do recesso da Câmara, apresentar pedidos de impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e outras iniciativas.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, inclusive, tem atuado abertamente, dos Estados Unidos, com ataques ao Brasil, ao STF e às instituições, conspirando para pressionar o país e interferir no cenário político nacional. Sem renunciar ao mandato, o deputado voltou a receber o salário de R$ 46 mil mensais, mesmo fora do país. Jair Bolsonaro, por sua vez, descaradamente, tenta usar o tarifaço como instrumento de chantagem política para livrar-se das consequências de seus atos golpistas.
Derrotar o imperialismo e a ultradireita
A exibição da bandeira de Trump em uma Casa do Legislativo brasileiro não foi apenas um gesto caricato. Foi a comprovação de que a extrema direita brasileira não hesita em agir contra os interesses do povo e do país.
Diante desta agressão imperialista é preciso uma reação firme e organizada por parte da classe trabalhadora brasileira e suas organizações. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região iniciou em suas bases uma campanha anti-imperialista e contra o tarifaço de Trump. Em outras regiões do país, manifestantes também têm ido às ruas.
É hora das centrais sindicais e dos movimentos populares organizar a luta nas ruas para denunciar essa ofensiva imperialista de Trump e da ultradireita e, com independência, cobrar do governo Lula medidas anti-imperialistas efetivas. Isso passa, inclusive, pelo fim da atual política econômica do governo, que está a serviço das regras do arcabouço fiscal e avança com privatizações e reformas neoliberais, que só aprofundam a dependência e a entrega de riquezas do país.
Fora Trump do Brasil! Bolsonaro na prisão! Sem anistia para golpistas!