Notícia - EUA: enfermeiros cuidam dos pacientes, mas ninguém cuida deles

Por Press Associates

A má cobertura de saúde para 10 mil enfermeiros — considerada por uma delas, em vídeo do sindicato, como uma das piores dos EUA — será uma das questões centrais, junto com os salários, nas negociações dos enfermeiros do sistema de saúde Corewell, sediado em Southfield, Michigan, que conta com nove hospitais.

Os enfermeiros fizeram uma manifestação em 21 de junho, demonstrando forte apoio à equipe de negociação. As conversas com os chefes da Corewell para um primeiro contrato começarão em 25 de junho.

Eles fazem parte do novo sindicato Teamsters Local 2024, que agora pretende organizar outros trabalhadores da saúde no sudeste de Michigan. Em novembro do ano passado, os enfermeiros do sistema Corewell votaram 4.958 a 2.957 (63%-37%) a favor da sindicalização, superando uma campanha antissindical de US\$ 1,7 milhão promovida pelos patrões.

Após a eleição, a empresa passou a negar aumentos, bônus e contribuições para a aposentadoria aos enfermeiros sindicalizados — benefícios que foram mantidos para os demais trabalhadores.

Entre os principais oradores da manifestação estavam o secretário-tesoureiro dos Teamsters, Fred Zuckerman, e dois pré-candidatos democratas ao governo estadual no próximo ano: a secretária de Estado de Michigan, Jocelyn Benson, e o xerife do condado de Genesee, Christopher Swanson.

Precariedade do sistema de saúde

Enfermeiros da linha de frente compartilharam relatos sobre o que significa enfrentar a precariedade do sistema de saúde quando se preparam para a negociação.

“Minha filha tem uma condição. Um especialista receitou um medicamento, e foi negado”, conta uma enfermeira em um vídeo no site dos Teamsters. “Qualquer dor ou incômodo, a gente tem que ignorar. É aterrorizante”, acrescenta outra. “Somos nós que estamos na linha de frente cuidando dos pacientes”, afirma um enfermeiro. “E temos os piores benefícios de saúde… provavelmente do país.

“Cuidamos dos pacientes, e não temos ninguém que cuide de nós.”

A gerente de casos Alison Lorentz disse à multidão: “As pessoas no topo ganham milhões de dólares, enquanto nós aqui embaixo estamos tentando apenas pagar nossas contas.” O salário da CEO da Corewell, Tina Freese Decker, em 2023 foi de US\$ 5,36 milhões, segundo uma lista da ProPublica sobre salários de CEOs de organizações ‘sem fins lucrativos’.

“A tendência na saúde está cada vez mais corporativa e, com isso, o cuidado está se tornando mais voltado ao lucro do que à saúde”, disse Lorentz.

“Estamos sendo atacados pelo nosso próprio empregador”, afirmou a enfermeira Alyson Zajack, da unidade leste da Corewell, referindo-se à negação dos aumentos, bônus e contribuições para aposentadoria.

“Mas esses ataques só jogam mais lenha na fogueira dentro de nós, enfermeiras irritadas, esgotadas e sobrecarregadas.”

“Sou enfermeira há 29 anos, e este é o ambiente de trabalho mais inseguro em que já trabalhei”, disse Willow Bronson, enfermeira da unidade Corewell Taylor, ao Detroit News. “Precisamos de mais segurança, não apenas da equipe mínima que temos espalhada por Michigan.”

Poucos enfermeiros, muitos pacientes

Essa falta de proteção inclui poucos enfermeiros para muitos pacientes, especialmente em unidades de terapia intensiva e salas de emergência estressantes.

Sindicatos que representam enfermeiros hospitalares registrados (RNs) e enfermeiros práticos licenciados, como o National Nurses United, o Teachers/AFT, o Service Employees (SEIU) e o AFSCME, vêm travando uma campanha há anos por leis que estabeleçam uma proporção segura entre pacientes e profissionais. Obtiveram vitórias em alguns estados, como Califórnia e Nova York, mas os chefes dos hospitais, usando como desculpa a pressão dos planos de saúde para cortar custos, muitas vezes se recusam a cumprir essas leis.

Hospitais, gestores e seguradoras, declaram os enfermeiros, estão mais comprometidos com os lucros do que com os pacientes — e, por isso, forçam cortes nas equipes e se recusam a pagar por medicamentos e cuidados necessários.

Zuckerman disse à multidão reunida em frente ao hospital Corewell em Southfield que o sindicato usaria seu robusto fundo de greve para apoiar os enfermeiros caso os patrões se recusem a assinar um contrato aceitável até o prazo final de dezembro.

Esse prazo é importante porque dezembro marca um ano desde que o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB) reconheceu oficialmente o sindicato como representante dos enfermeiros da Corewell. Após um ano, segundo decisões do NLRB, termina a chamada “barreira contratual” — um bloqueio a petições de dissidentes para desfazer a sindicalização, muitas vezes estimuladas pelos patrões.

“Não é segredo que a gestão da Corewell vem desrespeitando você e seus colegas há muito tempo. E agora que vocês se tornaram Teamsters, eles estão mais do que dispostos a continuar com esse desrespeito”, disse Zuckerman. “Pois eu tenho uma coisa a dizer para a Corewell: Prepare-se — porque vocês estão prestes a enfrentar a luta da vida de vocês.”

“À medida que enfrentamos essas batalhas juntos, lembrem-se de que o poder do povo será sempre maior do que o das pessoas no poder”, concluiu a secretária de Estado de Michigan, Jocelyn Benson.

Press Associates Inc. (PAI) é um serviço de notícias sindicais em Washington DC. Mark Gruenberg é o editor.

Texto traduzido do Peoples World por Luciana Cristina Ruy


Fonte:  Rádio Peão Brasil - 30/06/2025

 

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