Os banqueiros já comemoram: o interesse dos brasileiros pelo novo crédito consignado para quem trabalha em regime CLT é gigante. Segundo dados obtidos pela CNN Brasil junto ao sistema da Dataprev, cerca de 5,6 milhões de pessoas já solicitaram empréstimos pela nova modalidade, até segunda-feira (24). Mas, se os bancos celebram, a classe trabalhadora tem mesmo vantagens no novo sistema?
A medida foi lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na sexta-feira (21). Em apenas três dias, o “crédito do trabalhador” já supera R$ 50 bilhões em pedidos e dá aos bancos, como garantia de pagamento, parte do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) – saiba mais abaixo.
As centrais sindicais, com exceção da CSP-Conlutas, celebraram a nova modalidade de empréstimo, que faz parte da estratégia de Lula de buscar reverter sua impopularidade com o aumento do crédito na praça.
Riscos aos trabalhadores
O consignado CLT parece uma solução atraente para quem precisa de dinheiro extra, mas, na prática, pode se tornar uma armadilha – especialmente para trabalhadores já endividados. Entenda os riscos:
- O crédito compromete até 35% do salário, e as parcelas serão descontadas diretamente no holerite pelo empregador;
- Se o trabalhador for demitido, os bancos e instituições financeiras poderão pegar até 10% do saldo do FGTS ou 100% da multa rescisória do Fundo;
- Pode ser que o saldo do empréstimo seja maior que o valor das garantias, o que deixará uma pessoa desempregada endividada. Assim que ela conseguir um novo emprego CLT, o valor devido volta a ser descontado. Por causa disso, terá mais juros;
- Apesar de o governo prometer taxas mais baixas, a modalidade não tem teto de juros. É a festa dos bancos;
- Como a garantia virá do empregador, que fará o desconto em folha, os bancos não irão consultar se o trabalhador já tem nome negativado. Isso pode aumentar ainda mais o endividamento pessoal, em uma verdadeira “bola de neve”;
- Muitas pessoas usarão esse empréstimo para quitar outras dívidas que tenham juros maiores. Ou seja, os bancos vão ganhar de forma duplicada com essa nova modalidade.
“O governo federal, na realidade, está estatizando os riscos de empréstimos consignados, em favor dos banqueiros. Além disso, usa como garantias as poucas seguranças que os trabalhadores têm em caso de demissão, que são o FGTS e a multa. Isso coloca esses trabalhadores numa enrascada e não soluciona o problema de inadimplência”, afirma o presidente do Sindicato, Weller Gonçalves.
Realidade distorcida
Com a grave crise de endividamento da população, que atinge 74,6 milhões de pessoas segundo a Serasa, o discurso de Lula sobre a nova linha de crédito distorce a realidade em busca de ganhos políticos.
Em vez de apresentar propostas que diminuam os lucros dos empresários, para aumentar a renda da população, Lula mantém firme o ciclo de dívidas que corroem a renda dos brasileiros, principalmente dos mais pobres. O salário mínimo segue desvalorizado, sem ganhos reais, e passa a ser ainda mais limitado por causa do ajuste fiscal proposto pelo Palácio do Planalto.
A política econômica atende o andar de cima e prejudica o trabalhador. Na semana passada, o Banco Central (cujo presidente foi indicado por Lula) elevou a taxa Selic para 14,25% ao ano, o maior índice desde 2016. Com isso, o Brasil segue com recorde de juros reais, com a quarta maior taxa do mundo, atrás apenas da Turquia, Argentina e Rússia. É o paraíso do rentismo, já que fica mais atrativo aplicar dinheiro do que investir em produção e, consequentemente, gerar empregos.
“Em vez de enfrentar o agronegócio para baratear o preço dos alimentos e os magnatas do setor imobiliário para que o trabalhador tenha condição de comprar casa, o governo Lula atua para aumentar o endividamento da população e fazer a festa dos banqueiros”, acrescentou Weller. “No sistema capitalista, entra governo e sai governo, e a vida do trabalhador só piora”.