Falo há anos sobre a urgência de construirmos um sistema tributário que seja realmente justo, que alivie quem produz, quem trabalha e quem movimenta este país todos os dias. Por isso, recebo com satisfação — e também com senso crítico — a aprovação unânime no Senado do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Pela primeira vez em muito tempo, vemos um gesto concreto na direção correta: desonerar justamente aqueles que mais precisam de fôlego no orçamento.
A decisão do Senado, que mantém o texto aprovado pela Câmara e agora segue para sanção presidencial, é uma vitória importante. Ao ampliar a isenção, atendemos a uma demanda histórica dos trabalhadores, especialmente dos que vivem com salários cada vez mais corroídos pela inflação, pelo custo de vida e pelo endividamento crescente. É simbólico e significativo que esta medida tenha sido aprovada por unanimidade. Quando o Congresso inteiro reconhece que é preciso aliviar o peso sobre a renda do trabalhador, significa que o debate sobre justiça tributária finalmente está amadurecendo.
O projeto também estabelece um desconto no Imposto de Renda para quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7.350. Trata-se de um avanço pontual, mas relevante, pois corrige parcialmente distorções que penalizavam justamente a classe média assalariada — um segmento que carrega o Brasil nas costas, mas raramente sente o retorno proporcional das políticas públicas.
No entanto, como presidente da UGT, preciso ser transparente: este é apenas um passo. Apenas quem tem o salário como única fonte de renda seguirá submetido à mesma tabela progressiva e poderá ter retenção de até 27,5% na folha. Esse grupo é justamente o mais fácil de arrecadar — aquilo que chamamos de “tributação na fonte” — e, por isso, é sempre o primeiro alvo. Enquanto isso, grandes fortunas, altas rendas de capital, dividendos e patrimônios seguem praticamente intocados ou pouco taxados. Essa desigualdade estrutural continua reproduzindo um sistema regressivo, no qual quem ganha menos proporcionalmente paga mais.
Por isso, a ampliação da faixa de isenção deve ser celebrada, mas não pode ser tratada como ponto final. O Brasil precisa enfrentar de maneira decidida a tributação sobre lucros e dividendos, revisar privilégios fiscais injustificáveis e construir um modelo que cobre mais de quem pode mais. A justiça tributária não é apenas uma agenda econômica; é uma agenda de dignidade, cidadania e respeito aos trabalhadores.
A UGT seguirá firme nessa luta. Porque justiça tributária é sinônimo de justiça social. E nenhum país será verdadeiramente desenvolvido enquanto continuar colocando o maior peso justamente sobre os ombros de quem sustenta a economia real: os trabalhadores e as trabalhadoras do Brasil.