Anos atrás escrevi um texto intitulado “Uma Longa Travessia”. Infelizmente o site hospedeiro do mesmo se perdeu e com ele o registro, mas não a memória. Nele apontava para a difícil tarefa que nos impunha a mudança radical de mentalidade e conjuntura advinda da crise do capitalismo, do repique do neoliberalismo e da ascensão do extremismo político e religioso – obscurantista, negacionista e liberticida.
O Golpe travestido de impeachment, a prisão arbitrária e ilegal de Lula e a vitória de Bolsonaro são alguns dos momentos mais explícitos de uma tendência e ofensiva política, ideológica e cultural global e que ocorreram com força na sociedade brasileira num passado recentíssimo.
A força do fascismo versão brazuca – liderado por políticos rufiões, pastores picaretas, empresários inescrupulosos, influencers e outros escroques da mídia, agroterroristas, milicianos, aproveitadores de ocasião e aventureiros de toda sorte – é hoje capaz de formar um bloco político e um movimento de massas com inserção especial na classe trabalhadora e de base popular.
Aliançado com setores liberais e de centro-direita, impuseram uma tônica tanto na pauta econômica (ultraliberalismo) quanto nas questões comportamentais (conservadora-reacionárias) em largo espectro, indo até os recônditos da vida societária e mesmo comunitária e familiar.
E, apesar dos pesares, houve resistência. Uma forma de recusa militantemente pró-ativa, quase uma teimosia, uma verdadeira insistência diante dos mais adversos e abjetos cenários. A coragem política é digna de reconhecimento e energia para as lutas em curso, mesmo porque há sinais reais de que é possível adentrar noutra fase da luta de classes e de libertação e desenvolvimento nacional, reafirmando – sob novos patamares – a tríade democracia, soberania e direitos.
É a insistência cotidiana, o “nadar contra a corrente”, o “lutar contra moinhos de vento” que faz das nossas convicções, esperanças e análises a resistência. O quadro atual que se desenha ainda é carregado nas tintas e mal emoldurado, porém se nortear por características e princípios de unidade, amplitude, mobilização, centralidade, acento patriótico, democrático e antifascista.
A travessia ainda está por se completar, mas foi e é nossa insistência que fez e faz a resistência e que fará a devida e necessária mudança de rumos do Brasil, onde a cidadania se reencontre com a democracia e voltemos a respirar ares de civilidade.