O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) se reuniu, no início da tarde desta quarta-feira (17), com a superintendência da Santa Casa de Misericórdia para uma nova tentativa de negociação do pagamento dos salários atrasados e do 13º.
Segundo o presidente do Simesp, Eder Gatti, a instituição afirmou que não conseguirá efetuar o pagamento nesta quarta, como havia sido acordado na semana passada em reunião no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Ainda de acordo com o sindicato, a Santa Casa revelou que até sexta-feira (19) deve ter respostas dos possíveis empréstimos bancários que estão sendo feitos para viabilizar os pagamentos. A superintendência pediu um novo prazo, ainda não definido, ao Simesp.
Em assembleia, os médicos decidiram acatar o pedido, mas exigiram que uma nova reunião seja marcada na próxima segunda (22) ou terça-feira (23).
O sindicato também quer que a instituição pague a todos, seja de forma proporcional ou integral, sem recorte por faixa salarial. No final de novembro, o 13º salário foi pago apenas aos funcionários que recebem remuneração mensal de até R$ 3 mil.
“Independentemente de quando a Santa Casa for pagar, que pague respeitando todos os direitos que os médicos e demais profissionais têm. Salário, 13º e a multa”, explica Gatti.
Na manhã desta quinta (18), representantes da Santa Casa devem negociar com as demais categorias em reunião marcada no Ministério do Trabalho e Emprego. Será a terceira rodada de negociações no MTE.Procurada pelo G1, a Santa Casa não comentou as informações até a publicação desta reportagem.
Crise financeira
Uma auditoria independente verificou que a crise financeira da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é maior do que a instituição havia anunciado. Segundo o levantamento, o montante devido é de R$ 773 milhões, 78% a mais que os R$ 433,5 milhões que constavam em relatório divulgado pela instituição em setembro.
A nova auditoria foi encomendada pela Secretaria Estadual da Saúde e aponta má gestão da Santa Casa. Dentre as irregularidades, o relatório indica a compra de materiais superfaturados, pagamento de super salários e fraudes em contratações de serviços.
Há situação irregular até na lavanderia. O preço contratado foi de menos de R$ 2 o quilo de roupa lavada, mas o valor praticado é de R$ 3. A instituição perde R$2,6 milhões por ano somente nesse contrato.
A maior dívida é com a folha de pagamento dos funcionários, estimada em R$ 114 milhões. A Santa Casa tem 11 mil empregados e administra quatro hospitais próprios e 27 unidades de saúde da capital e de Guarulhos. Em segundo lugar, a dívida com fornecedores: R$ 104 milhões.
David Uip, secretário estadual de Saúde, se reuniu com a direção da Santa Casa no dia 11 de dezembro. Ao final do encontro, Uip afirmou a jornalistas que a dívida da instituição é de R$ 823 milhões. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o valor é total e contabiliza, além do revelado pela auditoria, uma dívida que a Santa Casa tem com o governo.
Questionado se haverá novo repasse, Uip apenas afirmou que o governo buscará mecanismos para ajudar a instituição. “A Santa Casa é um hospital privado, particular e responsável pelo que está acontecendo. Nós estamos encaminhando à Promotoria Pública e ao Tribunal de Contas o que nós auditamos para que consiga criar um mecanismo que possibilite ajudar a Santa Casa entendendo que isso deverá ser divido entre os três poderes”, disse David Uip.
O superintendente da Instituição, Irineu Massaia, pediu a colaboração dos funcionários, e disse que o atraso nos pagamentos deve ser resolvido em breve. “O que a gente pede novamente aos nossos funcionários que têm se esmerado, não só nesse momento como em outros em que faltaram medicamentos e estrutura, para manter qualidade de atendimento. Rapidamente resolveremos o problema dos funcionários que, no momento, é a nossa prioridade”, afirmou Massaia.