Os usuários do transporte coletivo da Região Metropolitana do Recife (RMR) enfrentam uma manhã de dificuldades para chegar ao trabalho, escola ou comércio. Mesmo com a liminar do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-PE), que obriga a ter 100% da frota nas ruas, o sindicato dos motoristas decidiu pela greve a partir desta segunda (28). Os terminais de Joana Bezerra, um dos principais do Recife, e da Macaxeira, além de diversas paradas de ônibus ao longo da PE-15 estão lotadas de passageiros, que reclamam da demora dos coletivos. Apesar disso, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Recife (Urbana), afirma que 66% da frota está na rua.
Na PE-15, no bairro de Salgadinho, Olinda, os passageiros fecharam a rodovia depois que um grevista baixou o pneu do ônibus em que eles estavam. Um passageiro foi detido, acusado de quebrar os vidros de um coletivo. Ele foi autuado por dano qualificado e levado para a Central de Flagrantes, no bairro de Campo Grande, no Recife. De acordo com a Polícia Civil, caso não seja paga a fiança de um salário mínimo até as 15h desta segunda, o suspeito será encaminhado ao Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima.
São 40 mil pessoas circulando diariamente por Joana Bezerra, que concentra mais de 1.100 viagens por dia. Os ônibus que chegam na garagem são poucos e não atendem à demanda. A Urbana pretende divulgar balanços a cada meia hora, informando a quantidade de ônibus que está circulando. Alguns dos usuários alegam que a espera ultrapassa 30 minutos, tempo considerado muito além do normal na estação Joana Bezerra, no Centro. Entre as reclamações, eles afirmam que nenhum ônibus que faz a linha Igarassu, RMR, passou pelo terminal até as 6h50.
Nos casos dos terminais, o metrô funciona como uma alternativa para quem depende do ônibus e amplia o atendimento. O metrô está funcionando com 14 trens na linha Centro e oito na linha Sul. Além desses, há quatro trens a mais para ajudar, se necessário; eles serão responsáveis por 40 viagens a mais na ida e 40 na volta. No fim do dia, serão 80 viagens a mais. No entanto, o problema persiste porque a maioria dos passageiros precisa pegar ônibus para chegar ao metrô, uma vez que há pouca integração dos trens com os principais pontos da cidade.
A determinação do TRT, expedida na sexta (25), é de que os motoristas do Grande Recife mantenham 100% da frota circulando nos horários de pico (das 5h30 às 9h e das 17h às 20h) e 50% fora desse horário. A decisão ainda fixou multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
De acordo com a assessoria de comunicação do Sindicato, a liminar é fruto da interpretação de um desembargador e a categoria vai trabalhar judicialmente para derrubá-la. Além disso, 100% da frota vai sair das garagens, mas os percentuais que vão circular em cada horário e em cada bairro serão definidos pelo comando de greve, durante a manhã. A assessoria ressalta que a paralisação acontece dentro de todas as exigências legais -- dentre elas, a obrigação de manter pelo menos 30% da frota circulando.
O porquê da greve
Motoristas, cobradores e fiscais de ônibus decidiram cruzar os braços em assembleia realizada na última quarta (23). Eles aprovaram indicativo de greve e comunicaram a decisão ao Ministério Público do Trabalho (MPT). A categoria não aceita a proposta de reajuste de 5% nos salários e no tíquete-refeição, feita pelo Urbana-PE. Eles querem aumento de 10%, proposto pelo MPT, e elevação no valor do tíquete-refeição de R$ 171 para R$ 320.
A greve deve afetar a vida de cerca de 2 milhões de passageiros que utilizam o transporte diariamente na Região Metropolitana. Atualmente, o sistema conta com aproximadamente 3.000 veículos integrando a frota, distribuídos em 385 linhas e 18 empresas operadoras de ônibus. São feitas, em média, 25 mil viagens por dia. O sistema conta também com mais de 15 terminais integrados.