Notícia - Metalúrgica Irene é despejada e deixa trabalhadores na mão

Noventa trabalhadores estão desempregados. A empresa está há um ano sem quitar o aluguel do galpão e desde 2008 não paga os diretos da companheirada. Por isso, o Sindicato conseguiu a penhora e passou a ser responsável pelos bens da metalúrgica.


A Metalúrgica Irene, em Diadema, recebeu ordem de despejo no último dia 15 e deixou, pelo menos, 90 trabalhadores desempregados.


“A Irene não faliu, está sendo despejada e quer aproveitar a situação para levar embora as máquinas e montar outra empresa em Itupeva, no interior de São Paulo”, denunciou Antônio Ronivaldo de Oliveira da Silva, o Roni, do CSE.


A crise na empresa é antiga, pois desde 2008 ela não paga os direitos dos companheiros.


Mas todos ficaram realmente desconfiados das intenções do dono da Irene quando ele começou a trazer caminhões para a fábrica dois dias antes da notificação de despejo pelo oficial de Justiça.


Os trabalhadores decidiram montar uma vigília na porta da fábrica, onde um grupo de 20 metalúrgicos em cada turno faz revezamento durante todo o dia.


“Tudo isso foi uma surpresa. O dono da empresa, o senhor Armando, só mandou que procurássemos nossos direitos com o Sindicato”, contou Roni, revoltado.


Ele destacou que a empresa existe desde 1955 e, antes de ir para Diadema, estava instalada em São Caetano, de onde acabou saindo pela mesma situação em 1998.


Aluguel atrasado


Em entrevista à Tribuna, o proprietário da metalúrgica, Armando Benedicto Ciccone, deu a velha desculpa de que delegou tarefas do setor financeiro a pessoas que não souberam desenvolver um bom traba¬lho e cumprir as obrigações determinadas.


Mesmo assim, admitiu irregularidades. “Eu realmente deixei de pagar diversos aluguéis e o responsável pelo imóvel pediu o prédio. Fiz um acordo para sair, pensei que teria tempo para ajustar a situação, mas o advogado apareceu com a ação de despejo”, disse.


Até pode ser verdade, mas em nenhum momento ele comunicou esta situação ao Sindicato. Ao contrário, sempre recusou qualquer tentativa de diálogo tentada pela Regional Diadema.


“Os trabalhadores são meus amigos”, disse Ciccone, após demitir 90 pessoas que ele considera ‘amigas’.


“Eu prometi que venderia os maquinários para pagar todos, só que eles não esperaram”, prosseguiu o patrão, sem explicar como os trabalhadores receberiam seus salários.


Sobre o fato de não aceitar que os metalúrgicos sejam os responsáveis pelo cumprimento das obrigações da Metalúrgica Irene para pagar seus direitos, o patrão mais uma vez revelou suas verdadeiras intenções.


“Em dois anos estarei na ativa novamente”, declarou. Isto é, se levar as máquinas para Itupeva e não pagar ninguém, terá dinheiro mais que suficiente para montar uma nova empresa, ganhar bastante dinheiro e deixar 90 pais e mães de família na miséria em Diadema.


Maria de Fátima Gomes, a Fatinha, do CSE, mostra como a enrolação de Ciccone acontecia. “A dívida com o aluguel na Irene foi uma surpresa para nós e aconteceu justamente no momento em que estávamos reivindicado o salário atrasado”, contou.


“A renegociação das datas de pagamentos dava esperanças aos trabalhadores. Ele diz que perdeu pedidos e não tem dinheiro, mas isso é uma estratégia da empresa para ganhar tempo. Ele também não cita em nenhum momento a fortuna que construiu desde 2008 ao retirar os direitos que conquistamos com a organização sindical”, desabafou Fatinha.


“O trabalhador está revoltado, desmotivado, não sabe mais o que fazer, o que vai comer hoje, como é que vai pagar as contas. E ainda nem foram dadas as respectivas baixas em nossas carteiras”, protestou a dirigente.


Penhora dos bens


Em assembleia na Regional Diadema na última sexta-feira a tarde, todos os trabalhadores foram informados do andamento do processo e as ações do Sindicato.


“Nós não temos conhecimento desta questão do senhor Armando ter sido lesado ou roubado por alguns trabalhadores da área financeira. Agora, é fato que ele não honra com o pagamento dos que foram demitidos”, explicou o coordenador na Regional Diadema David Carvalho, que antes da assembleia participou de um almoço solidário aos trabalhadores na porta da fábrica.


“Nós conseguimos a penhora de todos os bens em nome da Metalúrgica, inclusive a petição para sermos o fiel depositário. Agora, já estamos em processo de negociação com os interessados nas máquinas. Tudo isso para que estes bens possam ser vendidos e o valor revertido em pagamento aos companheiros do chão de fábrica”, finalizou David.


O que diz o trabalhador na Irene


“19 anos em uma empresa é uma vida. Vou ter de começar tudo do zero. Moro em Mauá e pego três conduções para chegar aqui, não é fácil. E ainda pago aluguel”.

José Edson da Silva, o Babalu, metalúrgico


“O sentimento geral aqui é de agonia, sufoco porque não temos nem fundo de garantia para receber. Minha esposa não trabalha e a renda da minha família depende hoje apenas do que eu ganho”.

Firmino Batista Muniz Filho, o Pai de Santo, membro do CSE na empresa


Fonte:  Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - 23/07/2013


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