Notícia - Sindicatos precisam ouvir e acolher o trabalhador, no trabalho e na vida, aponta Marcio Pochmann

Em um país com mais de 36 milhões de trabalhadores na informalidade, 14,1 milhões desempregados e 32 milhões que trabalham menos do que gostariam, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e se não bastasse, inflação média alta e a pior onda de carestia de comida desde 2003 é preciso que os sindicatos ouçam e acolham o povo, não só no trabalho, mas também na vida.

Esta foi a afirmação feita pelo economista, pesquisador e professor, Marcio Pochmann, durante a Plenária Nacional da Confederação Nacional dos Metalúrgicos na CUT (CNM/CUT) “Em defesa da democracia, do SUS, do emprego e renda”, nesta quinta-feira (14), pelo Zoom. [saiba mais sobre a plenária abaixo]

Márcio, na mesa “Conjuntura nacional e internacional”, disse também que não tem respostas para este novo modelo de atuação sindical que ele propõe, mas que a ideia é justamente oferecer uma reflexão para os dirigentes e as dirigentes da CNM/CUT.

Ele destaca que a sociedade mudou estruturalmente e que o momento é de ousar para mudar. “A gente precisa fazer diferente para ter resultados diferentes. Temos que parar de só resistir e também avançar”.

O economista disse que o sindicato precisa se tornar atrativo para o povo, onde os trabalhadores e as trabalhadoras possam conversar, ter algum tipo de perspectiva e reconhecimento.  Para Márcio, o sindicato precisa ser um ambiente de pertencimento e identidade.

“O mundo do trabalho mudou e a sociedade é outra. As pessoas procuraram instituições que retratam a vida e ao mesmo tempo esperança. Quando um desempregado ou desempregada está desamparada pelo Estado quem procura? A igreja, né? Porque lá é próximo de onde moro, acolhida numa linguagem compreensível e ainda com fraternidade e solidariedade. O que gera identidade e pertencimento”, afirma.

É preciso mudar

Ele ressalta que a pessoa desalentada ou desesperançada procura por emprego, por qualificação, crédito ou algo que dê esperança de dias melhores. O que ele percebe é que as instituições não têm tempo de ouvir, mas que os sindicatos têm capacidade de ter este papel.  

Outra coisa que o economista também destacou é que a globalização e a ruína na indústria impactaram de forma negativa a sociedade além dos governos Bolsonaro e Temer, que prejudicaram a vida de milhares de pessoas, principalmente a classe trabalhadora.

Ele disse que os empregos hoje são líquidos, trabalho somente para as pessoas conseguirem sobreviverem e não mais com a perspectiva de crescimento ou carteira assinada e com direitos. O povo brasileiro, aponta o economista, está fazendo qualquer coisa para sobreviver.

“A gente precisa ouvir, conversar e acolher as pessoas da forma mais humanizada possível. A gente ainda pratica a cultura de que as pessoas tem que ouvir o que temos que dizer e é essa a incompatibilidade da sociedade com os sindicatos. É possível darmos um salto reconhecendo que não dá para fazer mais do mesmo? Se fizer sempre a mesma coisa o resultado será igual e para os resultados serem diferentes é preciso que as ações sejam diferentes”.

“É momento de ruptura e a história do Brasil pode ser feita com as nossas ações. Não podemos ter medo de ousar, principalmente com uma plenária desta com qualidade. É um momento decisivo e o que fizemos até agora foi importante para resistir, mas não para avançar. É preciso fazer diferente”, disse Márcio.

Desindustrialização

Para o economista é preciso mudar esta realidade da desindustrialização que vivemos hoje e para isso é necessário discutir problemas estruturais, como a falta de investimentos e tecnologia.

“Precisamos reorganizar o que temos e decidir para que lado vamos. O que podemos reconfigurar? O que vale a pena apostar? Não dá para vencer sozinhos, quem serão nossos aliados?”, questiona o economista.

Desenvolvimento sustentável

Para ele é preciso pensar de outra maneira o desenvolvimento da industrialização do país como o foco no meio ambiente.

Márcio lembra que só no nordeste são 4 biomas e cada um deles com um clima, um povo e cultura distintos, fora a Amazonas, que já é foco de desenvolvimento do futuro, e que é no Brasil.

“Para se pensar em algo diferente o Brasil precisa voltar a crescer, porque sem isso o país não tem emprego, não tem lucros e muito menos salários. Não se pode pensar em desenvolvimento sem o meio ambiente. Não temos saída se quisermos um projeto progressista. A meu modo de ver, precisamos estimular a reflexão e pensar em ações, como a CNM está fazendo, para ver como continua e garante avanços de maneira sustentável”, destaca.

Sobre a Plenária

A Plenária Estatutária “Em defesa da Democracia, do SUS, do Trabalho e Renda” da CNM/CUT termina nesta sexta-feira (15). O debate em torno da conjuntura e do balanço das ações da entidade serão importantes para a entidade construir seu plano de ação para o próximo período.

Nesta quarta-feira (13) foi a abertura política e transmitida para todas e todos, pelas redes sociais da entidade. No segundo dia, além da conjuntura com o economista, também se falou sobre as lutas e conquistas da categoria e também foi aprovada algumas novas representações na Direção Executiva.

Nesta sexta, a programação da Plenária será encerrada com o mapeamento do ramo metalúrgicos, representação sindical, emprego e perfil do trabalhador e com a apresentação da Campanha “Trabalho Decente”.


Fonte:  CNM-CUT - 19/10/2021


Comentários

 

O Mundo Sindical e os cookies: nós usamos os cookies para guardar estatísticas de visitas, melhorando sua experiência de navegação.
Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.