Notícia - Brasil: 30 anos de neoliberalismo e estagnação

Líder metalúrgico de Guarulhos, segunda maior cidade de São Paulo, José Pereira deixou a presidência do sindicato depois de 21 anos à frente da entidade. De carvoeiro na cidade Veredinha, desde os 10 anos, chegou em Guarulhos aos 18 e assumiu a presidência de um dos maiores sindicatos do país no ano de 2001.

Em conversa com Carlos Pereira, repórter especial do HP, contou que considera que a unidade pela democracia é o mais importante para o momento, mas, “salvo a criança”, é preciso discutir já uma alternativa para o futuro do país. Para Pereira, “caímos numa armadilha de quem é a favor de Lula e quem é contra. Deu no que deu. Um aventureiro, metido a messias, encarnou o anti-lula e está literalmente arrasando o Brasil e ameaçando nossa democracia conquistada com sangue de tantos brasileiros”.

Pereira disse que “agora é correr atrás do prejuízo. Juntar todos, direita, centro, esquerda, STF, governadores, prefeitos, igrejas, imprensa, artistas, intelectuais, entidades da sociedade civil e centrais sindicais, industriais e banqueiros contra a ameaça de golpe e o fascismo, pela vacinação em massa, pelo abono de 600 reais, pelo socorro às pequenas e médias empresas e, desta forma, colocarmos o povo na rua”.

O líder sindical considera que “se conquistarmos uma segunda oportunidade, não podemos jogá-la pela janela outra vez”. “Um representante dos trabalhadores, com autoridade para governar em nosso nome, teve, digamos, 16 anos, para dizer a que veio e saímos pior do que entramos”. Avalia que “se passar o mesmo filme de novo, o Brasil não aguenta”.

Pereira afirmou que “ficou provado pela CPI que Bolsonaro foi o responsável por termos 600 mil mortos pela Covid. Citou o epidemiologista Pedro Hallal, que declarou à CPI que pelo menos 400 mil vidas teriam sido poupadas com a aplicação correta da vacina, do uso de máscaras e do distanciamento”.

“SITUAÇÃO É TRÁGICA“

Segundo o dirigente metalúrgico, os dados do IBGE atestam que “a situação é trágica”: 33 milhões de desempregados, sendo 15 milhões procurando emprego, 7 milhões desalentados e 11 milhões subempregados. E mais, 38 milhões na informalidade, sem direitos trabalhistas. Segundo a FGV, 19 milhões de brasileiros estão passando fome. “Estamos entrando no pior dos mundos, a estagflação, estagnação do PIB, com crescimento zero e inflação de dois dígitos. Para completar, ameaça de apagão”.

“Não tinha porque ser assim”, disse Pereira. Conforme o economista Nilson Araújo “durante 50 anos, até os anos 80, fomos o país que mais cresceu no mundo capitalista: 7% ao ano. Tínhamos um dos maiores parques industriais do mundo. O nosso PIB, em 1980, era de 235 bilhões de dólares, maior que o PIB chinês, de 197 bilhões de dólares. Hoje, o PIB da China é de 15 trilhões de dólares e do Brasil 1,4 trilhão de dólar. Nossa indústria foi arrasada. Em 1980, participava com 30% do PIB, hoje participa com menos de 10%. O investimento público está zerado. A Formação Bruta de Capital Fixo, investimento público mais o privado, está abaixo de 14%. Devia ser 25% no mínimo. Na China é 40%”.

Pereira ressaltou que “para industrializar o país Getúlio criou a Vale do Rio Doce, a Companhia Nacional de Álcalis, a Eletrobrás, a Siderúrgica de Volta Redonda, a Petrobrás, a Fábrica Nacional de Motores, FNM e uma legislação de Controle ao envio de capitais para o exterior”.

Denunciou que “a aliança Estado, trabalhadores e empresários nacionais, edificada por Getúlio Vargas para ser o contrapeso à ganância das potências imperialistas, foi desmontada para escancarar o país ao pagamento de juros aos bancos, à remessa de dinheiro ao exterior, à entrega do patrimônio estatal às multinacionais e desnacionalização das empresas genuinamente nacionais”.

Pereira lembrou que “nos anos 90, Collor e FHC inauguraram o hiper liberalismo. Estado mínimo, arrocho salarial e tentativa de desenvolvimento com base no capital externo. Juros altos – de lá para cá, transferência de alguns trilhões de reais do tesouro para os bancos -, meta inflacionária e câmbio flutuante”. Lembrou, por fim, que “nos últimos 30 anos, a média de crescimento despencou para 2% ao ano”.

PROTEÇÃO AO TRABALHO

O sindicalista argumentou que “Getúlio teceu a rede de proteção ao trabalho: criou a CLT, uma das mais avançadas legislações trabalhistas do mundo. Caluniada pelos petistas de cópia da fascista italiana Carta del Lavoro. Criou a unicidade sindical, um sindicato por categoria, garantindo mais força para o trabalhador e a Justiça Trabalhista.

Disse, indignado, que “a rede de proteção ao trabalho, ao salário, aos direitos e à Previdência Pública foi debilitada até quase à inanição: O sindicalismo foi amarelado pelo neoliberalismo do pluralismo sindical, a Justiça Trabalhista foi enfraquecida, acabaram com o juiz classista, como se fosse um saneamento da Justiça”. Concluiu o raciocínio dizendo que “Temer e Bolsonaro pegaram a coisa já no jeito para as reformas da Previdência e trabalhista”.

Que “Jango teve seu governo interrompido pelo golpe de 1964, patrocinado pelo governo americano. Com as reformas de base, a Reforma Agrária ao longo da­­s estradas, Reforma Urbana, Educacional e controle das remessas de lucro, completaríamos a obra de Getúlio”.

INDÚSTRIA E PLANO DE DESENVOLVIMENTO

“Considero que um plano de desenvolvimento tem que se basear na valorização do trabalho”, afirmou. E ressaltou: “A primeira medida de Getúlio foi criar o Ministério do Trabalho. Um país soberano tem sua produção voltada para o mercado interno. Temos que revogar as reformas da Previdência e trabalhista e o teto de gastos. Valorizar o salário mínimo. Repor a inflação aos salários. Segundo o DIEESE, o mínimo para uma família de 4 pessoas deveria ser de 5 mil reais. Creio que devemos ter uma política para chegarmos lá no médio prazo. Redução da jornada de trabalho em 15%. Seria emprego para mais 4 milhões de trabalhadores. Criar condições mínimas para as mulheres entrarem no mercado de trabalho, com extensão da licença maternidade, creche para todos, educação infantil em período integral e salário igual para trabalho igual. Regularização dos trabalhadores uberizados. Fortalecimento dos sindicatos, da unicidade sindical, da Justiça Trabalhista, com a volta do juiz classista”.

Seguiu: “Reindustrializar o país; retomar as 14 mil obras paradas e dar prioridade ao transporte sobre trilhos, metrô e trens. Completar o saneamento básico para toda população. Criação do complexo industrial da saúde e do refino de petróleo. Priorizar o investimento público, com a renda do petróleo, do comércio exterior e do minério”.

Segundo Pereira, “estas são algumas propostas que ouvi por aí e fiz minhas. “Sou nacional desenvolvimentista. Temos que planejar o futuro com base no nosso passado de lutas. O mundo não começou conosco. O Brasil fez sua independência, aboliu a escravatura, proclamou a República, fez a Revolução de 1930, unificou seu território, fala português de ponta a ponta, temos a maior reserva florestal do mundo, maior reserva hídrica, uma costa oceânica espetacular, o pré-sal, minério de ferro, e o melhor, um povo de luta”.

Por fim, disse: “Creio que é hora de os verdadeiros patriotas sentarem numa mesa e discutirem um projeto, baseado em nossa história e em nossas potencialidades. Tenho conversado muito com meu amigo João Vicente, com Aldo Rabelo, com meu Xará Pereira e com Nivaldo do PCdoB, com Cabeça, atual presidente do sindicato, ouvido e me inspirado em Ciro Gomes, no presidente da Força Sindical, Miguel Torres, com Adilson, presidente da CTB, e sinto uma profunda fertilidade de ideias e muita energia em todos. É cedo para um nome. Vamos construir um caminho”.


Fonte:  Rádio Peão Brasil - 28/09/2021


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