Notícia - Sem EPIs, trabalhadores da saúde de SP se arriscam para combater coronavírus

São Paulo, cidade com maior número de casos de coronavírus (Covid-19) – são 1.451 casos confirmados e 92 mortes – falha na proteção aos trabalhadores e as trabalhadoras da saúde, grupo em constante exposição ao vírus e que está correndo perigo ainda maior por causa da falta de equipamentos de segurança. E quando são oferecidos, são materiais precários para proteção, como aventais de baixa qualidade.

Desde o dia 19 as entidades que representam os trabalhadores no setor têm recebido denúncias sobre unidades de saúde da capital e municípios da grande São Paulo sobre situações que colocam a vida dos profissionais em risco. Levantamneto feito pela jornalista Mônica Bergamo em quatro hospitais (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, Albert Einstein, Sírio Libanês e HCor) revela que mais de 600 profissionais da saúde foram infectados nessas unidades.

O Sindicato dos Servidores Públicos de São Paulo (Sindsep-SP) e o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp-SP) abriram canais denúncia no WhatsApp para que situações possam ser relatadas.

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Os trabalhadores denunciam a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), como máscaras de proteção, luvas e gorros. Falta também álcool em gel e em alguns locais onde há disponibilidade desses materiais, os gestores adotam controle de uso, impedindo que trabalhadores da limpeza, em geral terceirizados, se protejam do coronavírus.

O presidente do Sindsep-SP, Sérgio Antiquera alerta para o aumento de casos de trabalhadores da saúde expostos, infectados e mortos pela Covid-19. “Temos recebido muitas denúncias de que os equipamentos de segurança não são suficientes para atender os pacientes e estamos acompanhando os casos de trabalhadores doentes”, diz o sindicalista.

Até a quinta-feira (26) já havia, ao menos, 43 casos de trabalhadores que foram afastados de suas funções por suspeita ou confirmação de infecção pelo coronavírus. “Só no Hospital Vermelhinho foram 30 pessoas, no Hospital Campo Limpo, mais 10 e houve até uma morte no Tide Setúbal, relata Sérgio Antiquera”. Ele considera que o quadro é agravado pela falta de equipamentos.  

A garantia de EPIs adequados, higienização de ambientes e fluxos de atendimento que priorizem a proteção dos pacientes e dos profissionais de saúde é fundamental para evitar o que aconteceu em outros países. Só na China, mais de 1700 profissionais da saúde foram infectados pelo vírus. Na Itália, onde médicos reclamaram que “foram enviados à guerra sem proteção”, já são mais de 6,4 mil. Na Espanha, cerca de 5,4 mil.

“Não podemos deixar que isso aconteça também com o Brasil”, diz o Dr. Eder Gatti, presidente do Simesp-SP.  Para ele, o aumento do risco aos profissionais que estão na linha de frente do combate ao vírus se dá por “irresponsabilidade dos empregadores e do poder público”.

Sérgio Antiquera, do Sindisep-SP, aponta ainda que as licenças médicas têm aumentado a cada semana. Os últimos dados levantados, relativos à semana de 10 a 16 de março, mostram que aumentou de 10 para 190 o número de profissionais em licença médica por suspeita de contaminação.

“Esse pessoal não só pede licença quando desconfia, mas também quando, nas próprias unidades, são identificados sintomas e então eles são orientados ao afastamento. E a contaminação se dá por falta de equipamentos adequados”, denuncia o sindicalista.

Sérgio Antiquera afirma que os sindicatos têm alertado ao governo sobre a gravidade do problema, mas sem resultados efetivos até agora, por isso medidas foram tomadas como entrar com mandado de segurança para garantir a entrega dos materiais. O Sindsep-SP também recorreu ao Ministério Público (MP) para uma solução mais efetiva.

“A Prefeitura alega que não falta, mas a gente vai até as unidades e vê a realidade. Tem lugar que não falta porque houve doações. Em uma das unidades, tem trabalhador comprando máscara e luva com dinheiro do próprio bolso e, inclusive, trabalhadores improvisando material de segurança”, ele relata.

Sérgio conta que presenciou, em uma das unidades, agentes de saúde usarem folhas de acetato com tiaras de cabelo para improvisar a máscara. “O material até protege, foi até indicado por especialistas da USP, mas olha em que situação nós chegamos”, diz Sérgio.

O presidente do Sindisep-SP explica que a ação no MP, além de exigir providências da Prefeitura de São Paulo para garantir os materiais de segurança, também se refere a pedidos de afastamento de trabalhadores que fazem parte de grupos de risco.

Até o fim da semana passada, 238 profissionais haviam pedido o afastamento. O grupo compreende profissionais da saúde com mais de 60 anos, portadores conformidades (diabetes, hipertensão) e aqueles que apresentam histórico de doenças respiratórias (bronquite e asma).

O presidente do sindicato informou que um relatório com todos os dados sobre a falta de segurança e pedidos de afastamento será entregue ao Ministério Público nesta segunda-feira e que a entidade aguarda um posicionamento do órgão.


Fonte:  Andre Accarini - CUT - 31/03/2020


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