Notícia - CUT realiza debate sobre tecnologia no trabalho e proteção a trabalhadores

A evolução da tecnologia aliada à sanha exploratória do capitalismo deu origem a um novo perfil de trabalhadores e trabalhadoras, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. São trabalhadores cada vez mais expostos a condições precárias de trabalho ou que desenvolvem atividades mais individualizadas.

Os exemplos mais comuns são os motoboys, motoristas de Uber, os prestadores de serviços autônomos, PJ´s (pessoa jurídica), que trabalham por conta e emitem nota fiscal, e trabalhadores de call-center. É uma nova massa de trabalhadores com novas relações de trabalho criadas a partir do crescimento do mundo digital. São trabalhadores que dependem dessa tecnologia para desenvolverem suas atividades.

Quando não é o caso da substituição da mão de obra humana por máquinas, a exploração submete os trabalhadores a condições degradantes, com respaldo da lei, no caso do Brasil, ‘flexibilizada’ pela reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB), que possibilitou o aumento da informalidade no mercado de trabalho.

Essa é a avaliação feita por especialistas que participaram do seminário ‘Novas Tecnologias e Relações do Trabalho’, realizado na manhã desta quinta-feira (28), na sede da CUT, em São Paulo.

Para a secretária de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, é preciso ampliar a responsabilidade não somente sobre a questão salarial e de direitos, mas também pelo ponto de vista humano e da saúde.

“O avanço da tecnologia torna a conduta dos trabalhadores mais individualizada tanto pela falta do convívio social, no caso daqueles que trabalham em casa ou não tem jornada fixa, quanto pela concorrência ocasionada pela cobrança de metas pessoais”, explica a dirigente.

Para o professor de Sociologia do Trabalho da Unicamp, Ricardo Antunes, essa nova classe se tornou refém da tecnologia. “Um trabalhador terá que estar conectado a uma plataforma para oferecer sua força de trabalho a corporações que enriquem exponencialmente, explorando uma mão de obra barata e precária”.

O professor alerta que a tecnologia digital está cada vez mais presente também nos setores tradicionais, onde, segundo ele, os “gestores querem dilapidar seus trabalhadores”. Ele explica que, dessa forma, as empresas se tornam flexíveis em seus métodos de produção e isso gera a precariedade no trabalho.

“É uma ideia em que, pela plataforma e de modo individual, se agiliza a produtividade ao mesmo tempo em que fragmenta a solidariedade entre os trabalhadores”, diz.

Segundo Antunes, um dos objetivos principais do capitalismo é justamente criar essa “massa de indivíduos lutando em uma selva em que somente 10% sobreviverão”.

Nesse contexto, a organização sindical se torna mais complexa. Trabalhadores têm a falsa impressão de que a competitividade trará independência.

 

Capitalismo vai ruir

O professor da Unicamp pondera, no entanto, que o capitalismo, apesar de jogar pesado para desarticular os trabalhadores, é um poço de contradições. “Além disso, a humanidade sabe quando o sistema não atende aos interesses da classe. Por isso, o capitalismo não durará para sempre”.

Fruto da exploração da mão de obra da classe trabalhadora, a concentração de renda é apontada como fator para a “destruição do capitalismo” pelo professor.

“Os cinco brasileiros mais ricos detém a mesma riqueza que 100 milhões de pessoas. Temos como desafio pensar num outro modo de vida, que toque no nosso cotidiano e o trabalho é uma questão vital”, diz.

É o que avalia também o professor de psicologia da PUC-SP, Odair Furtado. “A passagem para o capitalismo se deu em um longo período e, neste momento, o fim desse sistema, já em crise, está em curso, apesar de não percebemos com tanta clareza”, diz.

“Não temos a bola de cristal para dizer quando vai ocorrer, mas vai. O importante é a classe trabalhadora se preparar para lutar por condições melhores e contra a retirada de direitos”, defende.

Segundo Odair, o mundo do trabalho se reconfigura constantemente, “por isso se torna urgente termos meios de organizar os trabalhadores para enfrentar as mudanças como a pulverização, a desindustrialização, o aumento da informalidade e da prestação de serviços”.

Consciência de classe

Para os especialistas que participaram do seminário, as novas formas de trabalho, que dificultam a organização da classe trabalhadora no local de trabalho, provocam uma “alienação” nos trabalhadores.  

“Quando uma relação trabalhista se torna individual, a organização sindical se torna mais difícil. Além disso, os ataques às entidades, dificultando o financiamento, têm por objetivo enfraquecer a representação dos trabalhadores”, explica Odair Furtado.

Ele alerta ainda que é necessária uma forma de chegar até os trabalhadores e a comunicação tem papel fundamental para isso. “A prioridade é fazer contraponto ao que diz a imprensa tradicional que joga de acordo com os interesses dos capitalistas, ou seja, contra os trabalhadores”

Veículos como TVT, Rede Brasil Atual e Brasil de Fato, ele diz, “são alternativas da própria organização dos trabalhadores como meio de comunicação”.

A secretária de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, concorda com o professor e reforça que os tempos de luta mudaram, por isso há a necessidade de ainda mais mobilização. “Antes lutávamos por conquistas, agora temos que lutar para podermos nos organizar e manter direitos. E a CUT está cumprindo seu papel como a maior central sindical do país e 5ª maior do mundo”.


Fonte:  cut - 29/03/2019


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