O Sindicato recebeu ontem a confirmação de que a Ford concorda em organizar uma reunião entre representantes dos Metalúrgicos do ABC e a direção mundial da montadora nos Estados Unidos para discutir o futuro da fábrica de São Bernardo. A reunião foi pedida pela diretoria do Sindicato após o anúncio de fechamento da planta na terça-feira, dia 19, e a data deve ser definida nos próximos dias.
Na portaria da Ford junto com os trabalhadores ontem, o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, afirmou que a decisão da montadora veio da matriz da Ford.
“Portanto, é lá que teremos que tratar o destino da empresa e dos trabalhadores. Todos os nossos esforços são para reverter o processo de fechamento e defender a manutenção da Ford em São Bernardo. A fábrica é produtiva, tem condições de se manter aqui e de manter a sua história no setor automobilístico brasileiro”, explicou.
Wagnão criticou a postura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que se reuniu ontem com o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), sem a presença do Sindicato.
“Ficamos sabendo pela imprensa que a reunião ocorreria e solicitamos que pudéssemos participar. Recebemos o retorno do gabinete do governador de que eles não nos queriam presentes. Infelizmente, aqueles que são os mais afetados pela decisão não puderam participar da conversa que trata o destino de todos os companheiros”, avaliou.
Em entrevista coletiva, o governador afirmou que irá contribuir para achar um investidor para a Ford.
“Se estivéssemos presentes na reunião, teríamos alertado que essa opção já vem sendo tentada há mais de um ano e faria parte desse processo de negociação que estávamos buscando com a Ford nesse período. Deixaríamos claro que o importante é a manutenção dos empregos, hoje ameaçados, e não simplesmente arrumar uma solução para o patrimônio da empresa”, ressaltou.
“O governador não pode resumir seu papel a mero corretor de imóveis da Ford”.
O anúncio da decisão de encerramento da produção da Ford foi feito em reunião no dia 19 com a representação dos trabalhadores, que estava agendada desde janeiro para cobrar investimentos de futuro na planta. Em todas as semanas até a data, foram realizadas assembleias internas nas áreas para mobilização dos trabalhadores.
“A direção do Sindicato foi ao encontro para discutir um calendário de negociações para a vinda de novos produtos, mas logo de início a empresa comunicou o fechamento, que seria em seguida anunciado para a imprensa. Deixamos a reunião para fazer com urgência uma assembleia com os trabalhadores, para que eles não fossem avisados pela internet, o que seria um absurdo. Tem gente lá com 25, 28 anos de casa”, contou.
O Sindicato orientou os trabalhadores a retornarem para suas casas e só voltarem na próxima terça-feira, dia 26, quando está marcada uma nova assembleia para definir os encaminhamentos de luta.
“Além de fazer as articulações com todas as esferas possíveis, estão todos convocados para definir a forma que se dará nossa mobilização e resistência, que será dura”, chamou.
A decisão impactará na demissão mais de 4 mil trabalhadores diretos e terceirizados. Wagnão lembrou que ao todo são mais de 28 mil trabalhadores afetados por uma decisão que só tem a ver com o lucro da fábrica, além do impacto no comércio e serviços.
MPT
O Sindicato se reuniu ontem com a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), Sofia Vilela de Moraes e Silva, para discutir a situação dos trabalhadores na Ford. Ficou agendada reunião dia 28, às 14h, entre Sindicato, empresa, Prefeitura e MPT para tratar do assunto.
Apoio à luta
Os vereadores de São Bernardo aprovaram a moção de apoio aos trabalhadores e demais pessoas e empresas que serão afetadas pelo fechamento da Ford na cidade, além de repúdio às demissões anunciadas.
A sessão da Câmara Municipal foi realizada na quarta-feira, dia 20, que aprovou o requerimento de autoria dos vereadores Ana Nice (PT) e Antonio Carlos (PT). Também criou uma comissão de vereadores para discutir a situação da Ford.