O Seminário de Elaboração das Pautas de Reivindicações de 2010 e de Negociações Coletivas da FTIA (Federação Estadual dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Paraná) reuniu 50 dirigentes de 16 Sindicatos em Pontal do Paraná, nos dias 25 e 26 de fevereiro, sublinhando “a importância de ampliar a pressão na base para arrancar aumentos reais de salário e ampliar conquistas”.
Além da categoria, participaram do evento, realizado na Colônia de Férias do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Panificação de Curitiba, dirigentes da CUT estadual, petroleiros, bancários e professores, além de assessores de Comunicação e de Relações do Trabalho.
Sob a coordenação do presidente da FTIA, Ernane Garcia Ferreira, o Seminário pontuou a necessidade de maiores investimentos na qualificação dos dirigentes e de garantir espaços de participação para a base. Na avaliação dos presentes, tal compreensão é essencial para as entidades darem um “salto de qualidade na sua organização e fortalecerem ainda mais os laços de união entre a categoria para ampliar a sindicalização, potencializando as reivindicações”.
Na avaliação de Ernane Garcia Ferreira, “este é o momento de avançar e fazer uma campanha salarial para entrar na história”, já que todas as projeções apontam para um crescimento da economia da ordem de 5%. “Ao decidir investir nos espaços de diálogo, construímos debates para trocar experiências e ampliar a nossa capacidade de intervenção. Com mais comunicação, mais informação e mais organização, vamos materializar o nosso sonho, lançando uma semente para colher os frutos com responsabilidade coletiva. Esta é a melhor forma de construir um sindicalismo comprometido com um projeto de desenvolvimento que aponte para a valorização do trabalho e a distribuição de renda”, acrescentou o presidente da FTIA.
“Reafirmamos que ao lado da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (Contac) e da CUT, nosso compromisso é com mais salário, emprego e
direitos, com a construção de um país mais justo”, declarou João Moacir Belino, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Toledo.
VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO
O presidente estadual da CUT-PR, Roni Anderson Barbosa, ressaltou o papel das mobilizações unitárias das centrais sindicais em defesa da política de valorização do salário mínimo como elemento fundamental para o desenvolvimento nacional.
“Na verdade, esta é a maior campanha salarial do país, pois beneficia diretamente mais de 40 milhões de trabalhadores”, frisou. Da mesma forma, acrescentou o líder cutista, “a nossa luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salário é essencial, pois as empresas têm obtido imensos ganhos de produtividade desde 1988,
data da última redução”. No caso do Paraná, lembrou, “a conquista do Piso Regional, também representa forte estímulo para avançarmos nos ganhos reais de salário. A destacada atuação dos companheiros e companheiras da alimentação abre espaço para novas vitórias”.
Membro da executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), Roberto von der Osten (Betão) elencou as inúmeras vitórias alcançadas pelos bancários, a única categoria que tem negociação nacional unificada. “Em 1982 unificamos a nossa data-base e em 1992 assinamos a nossa 1ª Convenção Coletiva. De lá para cá foram muitas conquistas como o vale alimentação e a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Defendemos que as campanhas devem ser organizativas e mobilizativas, fortemente estruturadas nos locais de trabalho. Este é o caminho para a vitória”, acrescentou Betão.
O secretário de Comunicação da CUT Paraná, Miguel Baez ressaltou que a luta das entidades sindicais “precisa ser corporativa, na medida em que representa os interesses específicos do Ramo, mas também precisa ir além, pois somos parte da classe trabalhadora, que busca sua emancipação da dominação do capital. Com esta compreensão, investimos na organização, comunicação, mobilização e formação”.
DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO
“O investimento em comunicação é chave para a disputa de projetos. Enquanto os empresários têm a grande mídia para manipular e desinformar, precisamos criar e fortalecer nossos próprios meios, jornais, rádios e revistas, para afirmar nossas posições em defesa dos interesses da classe trabalhadora”, afirmou Leonardo Wexell Severo, assessor da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT. Leonardo resgatou a atuação da secretária Nacional da pasta, Rosane Bertotti, tanto do ponto de vista interno como externo, na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), onde a CUT teve papel chave na mobilização por um novo marco regulatório para o setor, “que ponha em xeque a ditadura imposta pelo latifúndio midiático”. Da mesma forma, acrescentou Leonardo, as ações desenvolvidas pela Contac/CUT junto ao Congresso pela redução da jornada da categoria para 36 horas “merece ganhar mais visibilidade, já que a intensidade do ritmo do trabalho nos frigoríficos avícolas, por exemplo, é uma atrocidade”.
A secretária de Formação da APP (Sindicato dos Professores do Estado do Paraná), Isabel Cristina, falou sobre a rica experiência da categoria e se comprometeu a estreitar a relação com os trabalhadores da alimentação: “vamos dar todo o apoio necessário nos cursos de formação política sindical, para que as lideranças possam cada vez mais elevar a sua capacidade de intervenção junto à categoria, o que aumentará o seu poder de pressão sobre o empresariado”.
“A formação dos dirigentes e militantes é estratégica para o crescimento dos sindicatos e representa forte estímulo para a superação dos limites, fundamental no processo de construção de uma nova sociedade. Há gente que vê o trabalhador como mão-de-obra, ferramenta. Nós apostamos na sua energia criadora”, declarou Edson Cruz, da assessoria da Secretaria Estadual do Trabalho.
LESÕES E MUTILAÇÕES
O número de mutilados e lesionados no setor alimentício impressiona e pode ser facilmente comprovado. Na reunião da FTIA, das 50 lideranças presentes, duas apresentavam graves sequelas de acidentes de trabalho.
A falta de condições mínimas de segurança num setor altamente lucrativo é uma demonstração da insensibilidade e da irresponsabilidade de alguns empresários. Como se não bastasse a imposição de um ritmo de trabalho abusivo, as empresas não investem minimamente em prevenção.
Osmar da Silva Oliveira era mecânico de manutenção da Sadia em Dois Vizinhos quando perdeu a ponta do dedo mínimo e a do dedão no dia 26 de dezembro de 2008, data que ficará marcada para sempre em sua memória. O valor da indenização pela perda do movimento de pinça, essencial na profissão? R$ 1.700,00.
PRÁTICAS ANTISSINDICAIS
O caso da avícola Avebom, em Jaguapitã, foi denunciado como exemplo de crime antissindical. A empresa contratou ônibus e filmou os trabalhadores para forçá-los a se desfiliarem do Sindicato. A denúncia já foi encaminhada ao Ministério Público.
Informado sobre o resultado da reunião, o presidente da Contac/CUT, Siderlei de Oliveira, destacou que “a determinação, a energia e a combatividade expressa pelos companheiros do Paraná deixa claro que teremos uma campanha salarial que vai marcar época e para a qual a FTIA e os sindicatos terão todo o nosso apoio”.
Fonte: Cristiane Fonseca/CONTAC
-
01/03/2010