Com a situação de abandono dos patrões sofrida pelos trabalhadores no Grupo Movent, em Diadema, os Metalúrgicos do ABC iniciam uma campanha de solidariedade para arrecadar alimentos não perecíveis aos companheiros e companheiras que estão sem receber salários, sem direitos, na luta contra demissões em massa, pela retomada do convênio médico e de condições para voltar a produzir na empresa.
A diretoria executiva do Sindicato esteve na manhã de ontem com os trabalhadores na autopeças. O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, reforçou a luta contra as práticas ilícitas e antissindicais da empresa.
“Iniciamos a campanha para arrecadar alimentos aos trabalhadores na Movent, para que possam colocar arroz e feijão na mesa das suas famílias. A empresa demitiu trabalhadores, não paga os direitos, não tem matéria-prima para que os trabalhadores possam produzir. Os trabalhadores que produziram a riqueza da Movent estão sem ter como sustentar suas famílias”.
As doações podem ser entregues na Sede, nas Regionais e aos representantes do CSEs nas empresas.
Desde anteontem, todos os trabalhadores foram impedidos pela empresa de entrar, mesmo os que não foram demitidos. A empresa terceira de alimentação, sem receber também, deixou de fornecer refeições. O Sindicato, desde terça-feira da semana passada, tem fornecido alimentação aos trabalhadores que se revezam acampados em frente à empresa.
O coordenador da Regional Diadema, Antonio Claudiano da Silva, o Da Lua, destacou a importância da unidade e da solidariedade. “A diretoria executiva esteve na Movent, conversando com os trabalhadores que estão acampados e se colocando sempre à disposição de continuar resistindo e lutando para restabelecer os direitos. A luta é feita a cada dia e estamos estudando novos passos para a semana que vem”.
Está agendada para amanhã uma mesa redonda com a empresa no Ministério do Trabalho.
Geladeira vazia
O CSE na Movent, Ananias Batista Alves Júnior, o Juninho, contou como está a situação da companheirada. “É uma situação de calamidade, tem companheiros com aluguel atrasado, sem dinheiro para comprar fralda para o filho, sem ter como ir para a porta da fábrica fazer a luta, companheiros que já não tem mais mantimentos na geladeira, inclusive me mandaram foto de geladeira vazia”.
“E por outro lado fica o sentimento de revolta de todos os trabalhadores pela postura que a empresa adotou, de não dar satisfação, abandonar os trabalhadores e a própria empresa. Estamos com o vale do meio do mês atrasado e já é dia de pagamento novamente e não temos posição nenhuma. A empresa tinha carteira de bons clientes, fornecia para montadoras, tinha potencial e tudo para dar certo, mas caiu nas mãos de uma má gestão”.
Relembre o caso
Desde que Grupo Movent assumiu a Dana, em 2018, os problemas de atraso de FGTS e má-gestão começaram e a luta dos trabalhadores também. Os problemas se intensificaram neste ano.
Em 3 de março deste ano, em assembleia, os trabalhadores aprovaram disposição de luta e estado de alerta contra atrasos de pagamentos e problemas de gestão, com atrasos de fornecedores, prestadores de serviços, falta de matéria-prima, restaurante e convênio médico.
Em 4 de setembro, com o agravamento da situação na fábrica e após uma semana de mobilizações internas, foi realizada plenária na Regional Diadema. Sindicato e trabalhadores cobraram responsabilidade, resolução de problemas e transparência sobre o futuro.
Desde o dia 17 de novembro, foram cerca de 190 demissões por telegramas, inclusive pessoas com estabilidade no emprego, como trabalhadoras grávidas, companheiros com câncer, reintegrados pela justiça, vítimas de acidente de trabalho com redução da capacidade laboral, afastados pelo INSS, representantes sindicais e cipeiros.
Em assembleia no dia 21 de novembro, os trabalhadores aprovaram a entrega do aviso de greve ao Grupo Movent.
No dia 24 de novembro, em assembleia, aprovaram a continuidade da mobilização. No mesmo dia, Sindicato conquistou na justiça a reintegração da trabalhadora Iara Chagas Gomes, que tinha sido demitida grávida.
Em plenária no dia 27 de novembro, na Regional Diadema, o Sindicato discutiu a situação e os próximos passos da luta. Os trabalhadores esclareceram dúvidas jurídicas.
Desde 28 de novembro, impedidos de entrar, os trabalhadores iniciaram acampamento na porta da fábrica para monitorar a situação.