Notícia - Conheça o Sindicato dos Metalúrgicos de Nossa Senhora do Socorro (SE)

A Fitmetal, presente em nove estados com Sindicatos e Oposições Metalúrgicas, continua a realizar o “Ciclo de Debates – Indústria e Desenvolvimento”. O próximo encontro será realizado nesta quarta-feira (04/10) na cidade de Aracaju, Sergipe, em parceria com a mais nova base da Fitmetal, o Sindicato dos Metalúrgicos de Nossa Senhora do Socorro e Região. A CTB e o Dieese também organizam o evento que terá como debatedores: Edvaldo Nogueira, prefeito da cidade de Aracaju; Ricardo Lacerda, professor da Universidade Federal de Sergipe; e Luís Moura, supervisor técnico do Escritório Regional do Dieese em Sergipe.

Para conhecermos melhor o Sindicato que promove este ‘Ciclo de Debates’, a metalúrgica Vânia Brito – primeira mulher a presidir um sindicato da base da Fitmetal – apresenta a jovem e combativa entidade (fundada em 02 de julho de 2016) que tem mais da metade da direção composta por mulheres: 9 de um total de 16 cargos.

“O nosso sindicato é o mais jovem, mas não por isso fugimos da responsabilidade e da luta. Entendemos que o sindicato tem que reivindicar as questões imediatas como salário e melhores condições de trabalho para a categoria, mas precisamos também estar inseridos na luta geral. Nascemos em um período complicado da luta de classes do país, vivenciamos um golpe e agora as reformas que tentam retirar os direitos trabalhistas e previdenciários. Estivemos presentes, enquanto sindicato e categoria, nas duas greves gerais deste ano”, comenta a dirigente.

O Sindicato sergipano tem atuação nos municípios de Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros, Santo Amaro das Brotas, Rosário do Catete e Maruim, com abrangência sobre cerca de oito mil trabalhadores que atuam em: metalúrgicas, siderúrgicas, mecânicas, autopeças, empresas de materiais elétricos e eletrônicos, informática, manutenção e montagem, produtores de energia eólica e solar, além de motos e bicicletas.

No entanto, apesar dessa diversidade de atividades, a maioria das empresas da base do sindicato são pequenas. Apenas a fabricante mundial de componentes automotivos Yazaki se destaca em tamanho e número de trabalhadores. A Yazaki é uma fabricante japonesa de cabos e chicotes elétricos fundada em 1941. A empresa instalou a sua primeira fábrica no Brasil em 1997 e hoje conta com cinco fábricas no país em quatro estados – Minas Gerais, São Paulo, Paraná (duas) e Sergipe. A fábrica de Nossa Senhora do Socorro foi inaugurada em 2013.

Fundação do Sindicato

De acordo com Vânia, a categoria metalúrgica da região pertencia à base de um sindicato estadual chamado Simese, porém muitos trabalhadores sequer sabiam de sua existência por este ter uma atuação meramente cartorial com um presidente que está no cargo há mais de 30 anos.

“Nós não tínhamos conhecimento de que sindicato era esse, pois nem sequer compareciam na porta da fábrica até o momento em que foi criado o Sindicato de Nossa Senhora do Socorro. Apenas sabiam sobre o Simese as pessoas que eram desligadas de suas atividades quando compareciam para a homologação. Além disso, a sede deles só funciona em duas datas por mês em que são realizados os desligamentos da empresa”, diz.

Com este cenário caótico surgiu a necessidade de os trabalhadores terem um sindicato atuante, independente e com viés classista, que representasse a categoria e que lutasse pelos direitos dos operários. A partir daí a CTB/SE e a Fitmetal disponibilizaram quadros políticos experientes para auxiliar no processo de construção do Sindicato dos Metalúrgicos de Nossa Senhora do Socorro e Região. Agora, com a diretoria eleita e já atuando junto aos trabalhadores, Vânia aponta que o próximo passo é lutar pela completa regularização do sindicato junto aos órgãos da Justiça do Trabalho.

“Nosso principal objetivo é legitimar pela luta, organização e via judicial o Sindicato como representante de fato e de direito da categoria metalúrgica em nossa base de atuação”.

Mulheres no poder

Diferente da grande maioria dos sindicatos, especialmente dos metalúrgicos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Nossa Senhora do Socorro é presidido por uma mulher. Este é o primeiro sindicato da Fitmetal com uma presidenta. Somado a isto, mais da metade da direção tem mulheres em seus cargos. Para Vânia, ocupar o cargo de presidenta é histórico em uma área com predominância masculina.

Tivemos um ano bastante produtivo, aonde a cada ato os trabalhadores passaram a ter mais confiança no sindicato. Sempre estivemos ativos e persistentes na luta para defender os direitos da classe

“É muito simbólico o fato de uma mulher dirigir um sindicato de metalúrgicos, uma função que até o final da década de 90 era predominantemente masculina. Este fato se torna maior porque as mulheres ganham menos do que os homens em uma mesma função, pois a exploração tem caráter de gênero”, aponta.

Conquistas

Sobre esse primeiro ano de atuação, Vânia coloca que o Sindicato trabalha para aumentar o nível da consciência dos trabalhadores quanto ao seu papel na sociedade. Dessa maneira, todos podem ajudar na construção dessa fundamental ferramenta na defesa dos trabalhadores, que é o Sindicato.

“Tivemos um ano bastante produtivo, aonde a cada ato os trabalhadores passaram a ter mais confiança no sindicato. Sempre estivemos ativos e persistentes na luta para defender os direitos da classe”.

Nesse breve período de existência, o Sindicato já dispõe de uma sede, ainda que alugada, e de advogados para atenderem os metalúrgicos filiados.

“Estamos trabalhando incessantemente para ampliar a estrutura do sindicato para melhor atender a demanda da categoria. Ou seja, apesar do pouco tempo já construímos muito. Mas estamos apenas no início desse processo”, comenta.

Empresas da base

O relacionamento com as empresas da base do sindicato começou tumultuado. Na figura de principal empresa da região, a Yazaki adotou práticas antissindicais, não respeitando as convenções da Organização Internacional do Trabalho e a Constituição Nacional que asseguram o direito à criação de sindicatos.

Assim, a partir da assembleia de fundação da entidade, a empresa demitiu todos os funcionários que compõem a diretoria – cerca de 85% da direção. No último mês de junho, a empresa foi judicialmente condenada a reintegrar o trabalhador Rafael Cardoso de Souza, afastado desde julho de 2016, além de pagar a ele uma indenização.

“Atualmente não temos relação nenhuma com a empresa a não ser no mundo jurídico. Mas o Sindicato está sempre aberto ao diálogo. As demissões foram injustas e agora estão sob análise do judiciário. Não temos dúvidas do resultado que será favorável aos trabalhadores e dirigentes do sindicato”.

Segundo Vânia, por conta dessas dificuldades, ainda não foi possível negociar com os patrões uma nova proposta de dissídio. No caso da Yazaki em Sergipe, em comparação com os trabalhadores de outras fábricas da empresa no Brasil, os salários se mostram muito inferiores aos de outros estados mesmo considerando os custos de vida e diferenças regionais. Hoje, a empresa tem unidades em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. 
“Ainda não conseguimos discutir com os patrões uma proposta de convenção ou acordo coletivo de trabalho, mas o acordo vigente é muito ruim para os trabalhadores, garante apenas o mínimo constitucional”, revela a presidenta.

Estes salários achatados refletem a mudança da Yazaki para Sergipe. Antes, a empresa tinha uma fábrica em Feira de Santana, Bahia, para fornecer chicotes e cabos elétricos para a Ford em Camaçari (BA). Alegando a queda de vendas no setor automotivo, a empresa fechou a sua unidade na cidade baiana, porém abriu a fábrica de Nossa Senhora do Socorro (SE) para continuar a fornecer equipamentos para a Ford.

No entanto, a montadora de veículos, mesmo em um momento de recessão do país, teve em Camaçari um aumento de produtividade. Reflexo disso foi a negociação que permitiu ao Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA) conquistar junto à empresa a criação de 160 vagas de emprego na unidade.

Mas o caso de Camaçari é isolado. Vânia lembra que a taxa de desemprego em Sergipe é maior do que a nacional, o que barateia ainda mais a mão de obra. Enquanto no Brasil a taxa de desemprego é de 13.3% em Sergipe a taxa é de 16,1%, de acordo com o Dieese.

“O golpe que retirou uma presidenta legitimamente eleita está produzindo consequências devastadora para o mundo do trabalho no Brasil, diminuiu o nível de investimento, desmantelou a engenharia nacional que culminou em mais de 13 milhões de desempregados no país e com a taxa de desemprego em Sergipe que é maior que a média do Brasil”, conclui Vânia.


Fonte:  MURILO TOMAZ - FITMETAL - 06/10/2017


Comentários

 

O Mundo Sindical e os cookies: nós usamos os cookies para guardar estatísticas de visitas, melhorando sua experiência de navegação.
Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.