Artigo - Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, 91 anos

O Sindicato dos Operários Metalúrgicos de São Paulo foi fundado no início do processo de industrialização e urbanização do Brasil, quando o país deixava sua situação predominantemente agrária e ainda colonial. A fundação ocorreu no dia 27 de dezembro de 1932, na rua Venâncio Aires, nº 10, com a presença de cerca de cem metalúrgicos. O reconhecimento oficial pelo Ministério do Trabalho viria poucos meses depois, em 02 de maio de 1933.

No início, a base dos metalúrgicos era disputada por um resquício do movimento anarquista no Brasil, e por aqueles que viriam a fundar o Sindicato em 27 de dezembro de 1932.

No ano em que o Sindicato foi fundado, a Lei Áurea, que pôs o fim à escravidão tinha apenas 42 anos. É quase o tempo que temos entre a atualidade e o fim da ditadura militar, em 1985, portanto, 38 anos. Desta forma, em 1932, existir uma organização de trabalhadores oficial, o Sindicato, representava um avanço radical com relação ao triste, e então recente, passado escravista.

Os anos 1930 e 40 foram de grande ebulição para o movimento sindical, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo viveu todas elas, sendo alvo de uma intensa disputa política entre ministerialistas, anarquistas, integralistas e comunistas.

Começo modesto

O Sindicato começou modesto, em uma pequena sala alugada na Praça João Mendes, funcionando à noite, pois os diretores, que recebiam pessoalmente os filiados, trabalhavam nas fábricas durante o dia. Passou pelo Palacete Santa Helena, na Praça da Sé, em uma época em que a Catedral e o metrô ainda não existiam. É simbólico, portanto, que o Sindicato tenha acompanhado o crescimento da cidade. Somente em 1941 foi criado o jornal, O Metalúrgico, e em 1954, foi adquirida a sede própria na Rua do Carmo.

Antes de 1964, o Sindicato sofreu ao menos três intervenções: em 1936, em 1939 e em 1946. E já era uma prática dos metalúrgicos driblar as intervenções através de chamadas “comissões de fábrica”.

Grandes movimentos nos anos 50 e 60

Nas décadas de 1950 e 60 o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, sob influência do Partido Comunista, foi central nos grandes movimentos que redefiniram os rumos das negociações trabalhistas e da organização sindical. Junto com os Têxteis, Gráficos e outras categorias, protagonizou a Greve dos 300 mil, em 1953, a fundação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 1955, a luta pelo abono salarial, em 1962, a Greve dos 700 mil, em 1963, toda a pressão e a resistência política vivida no governo de João Goulart, e, finalmente, foi vítima do golpe de 1964, tendo a sede cercada na manhã do dia 31 de março.

Em abril de 1964, logo após o golpe militar, o Sindicato sofreu nova intervenção ficando sob comando de Carlos Ferreira dos Santos por três meses e depois de uma junta interventora. Novas eleições ocorreram em janeiro de 1965 e, para afastar a possibilidade de o governo indicar um militar para assumir a direção, remanescentes da antiga diretoria optaram por compor com o “grupo do Joaquim”.

O metalúrgico Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, foi eleito e assumiu em 1965 permanecendo até 1987. Neste período surgiram grupos de oposição, que preferiam partir para o enfrentamento com a ditadura ao invés de compor com um sindicalista da confiança da Federação dos Metalúrgicos de São Paulo, entidade que, naquela época, apoiava a ditadura militar. A parcela mais radicalizada da oposição nunca aceitou o comando de Joaquim. Outros militantes, egressos daquele grupo, por outro lado, entenderam, com o tempo, que era melhor agir politicamente por dentro da estrutura. Mais do que isso, reconheceram que o presidente lhes dava o espaço e o apoio necessário para a ação política.

O próprio Joaquim se engajou na luta sindical através do Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA), de 1967; das greves de 1978 a 1980; da participação na Conclat de 1981, quando o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, apesar de ter sido a maior base de sustentação do evento, foi escanteado pela Comissão Pró-CUT. Ele também foi protagonista da greve geral de 1983; participou da campanha pelas Diretas e, sobretudo, reivindicou respostas pelos assassinatos dos metalúrgicos da base paulistana no contexto da repressão.

Período democrático

Do fim da década de 1980 em diante, o país entrou no período democrático mais longo de sua história. As diretorias estavam livres da ameaça de cassação. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, sobretudo após a criação da Força Sindical, em 1991, além das tradicionais campanhas salarias e da luta cotidiana pelos metalúrgicos de São Paulo, envolveu-se em causas nacionais, como a que levou os sindicalistas a realizar as Marchas da Classe Trabalhadora. Em 1998 o Sindicato unificou sua base com a base de Mogi das Cruzes, passando a chamar-se Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.

Desindustrialização

Entretanto, do ponto de vista econômico, ao contrário do crescimento industrial verificado entre 1930 e 1980, cujo centro nervoso estava em São Paulo, de meados da década de 1980 em diante o país sofreu uma progressiva de desindustrialização, um intenso processo de terceirização e desemprego e uma consequente desorganização da classe trabalhadora. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, como todo o movimento sindical, teve perdas neste processo e viu aumentarem as lutas de resistência e de contenção. O ápice do desmonte industrial e sindical ocorreu em 2017, quando a Reforma Trabalhista golpeou o movimento sindical de forma nunca antes vista.

Foi mais um período de enfrentamento que, apesar do ambiente de liberdade política, se colocou como um desafio poderoso.

A luta faz a lei

Desde 2008 o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes é presidido por Miguel Eduardo Torres.

Ao longo dos anos, Torres demonstrou ativismo sindical, liderando diversas campanhas, como a contra a fome em 1998 e a Marcha para Brasília em 2000. Participou de órgãos como o Conselho Nacional da Assistência Social em 2002.

Em sua gestão, Torres, que criou o slogan “A luta faz a lei”, liderou e lidera diversas lutas, incluindo a redução da jornada de trabalho, estabilidade para delegados sindicais e regulamentação da terceirização. Ele também é protagonista de eventos, marchas, campanhas e no diálogo com todas as esferas do poder público, destacando-se na defesa dos trabalhadores.

Em 2023, a categoria metalúrgica conquistou reajuste salarial, e o país testemunhou avanços, como a lei de valorização do salário mínimo e a igualdade salarial. Torres representou o governo brasileiro em viagens à China e aos Estados Unidos, sendo membro de importantes conselhos governamentais. O ano também foi marcado por audiências para reforçar as reivindicações da classe trabalhadora.

O Sindicato chega em 2023 como uma das poucas entidades com peso e força que manteve a unidade em 91 anos. Uma entidade que ainda é objeto de uma história disputada ideologicamente e simbolicamente. E que, principalmente, é uma força para os trabalhadores na luta entre o capital e o trabalho.


Carolina Maria Ruy
Pesquisadora, jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.

 

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