Artigo - A sanha privatista do governo Tarcísio

No último dia 3 de outubro, uma grande greve dos trabalhadores da Sabesp, Metrô de São Paulo e Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) colocou na ordem do dia o debate a respeito de serviços públicos essenciais para a população.

Foi uma greve contra os planos de privatização do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e uma resposta dos trabalhadores à sua truculência política e descompromisso com a missão econômica e social do Estado.

Fiel às suas raízes bolsonaristas, o governador aproveitou os generosos espaços das emissoras de TV para atacar os sindicatos, vociferar contra o direito constitucional de greve e reafirmar seus compromissos com o desmonte do patrimônio público paulista.

Sem encontrar limites para suas falácias, o governador chegou a dizer que a privatização é feita para o povo pobre da periferia e que os grandes empresários, e não o Estado, é que devem gerir essas empresas.

Seria cômico se não fosse trágico. É a mesma figura que caiu de paraquedas em São Paulo, disse não saber onde vota e já governador distribuiu material didático onde “ensina” que a capital do Estado tem praias e que Dom Pedro II assinou a Lei Áurea.

Para tentar ludibriar a boa fé do povo, o governador Tarcísio ressuscita a cantilena do estado mínimo, ausente das atividades econômicas e sociais. Em sua sanha privatista, diz que o Estado não deve se ocupar do saneamento básico nem do transporte público.

A alegada eficiência privada na gestão do transporte metroferroviário de São Paulo tem explicações bem mais prosaicas e que o governador tenta esconder da população. A repartição diária das tarifas arrecadadas demonstra bem isso.

Todo dinheiro arrecadado com as tarifas é gerido por uma Câmara de Compensação e Pagamentos e depois distribuído para o Metrô, CPTM e para a empresa privada (CCR). Só que essa divisão penaliza o Metrô e a CPTM e multiplica os lucros da CCR.

O governo repassa para a empresa privada tarifa de remuneração superior à tarifa média paga ao metrô. Para cada passageiro transportado, a CCR recebe R$ 6,3229, enquanto a tarifa do metrô é de R$ 4,40.

Com esse subsídio generoso, a empresa privada vê seus lucros aumentarem anualmente enquanto o Metrô vive em uma situação de dificuldades crescentes porque precisa sustentar essa farra distributivista.

No caso da Sabesp, as alegações privatistas também são risíveis. Apesar do esforço retórico dos editoriais dos jornalões, só as pessoas ingênuas podem acreditar que o capital privado está interessado em atender mais e melhor à população pobre.

A Sabesp é uma empresa reconhecida internacionalmente pela sua eficiência, tem altos índices de cobertura no fornecimento de água potável e na coleta e destinação final de esgotos e, mais que tudo, é altamente lucrativa.

Todas as publicações econômicas que tratam da pretendida privatização da Sabesp, fazem cálculos da montanha de dividendos que os investidores abocanharão com o controle acionário da empresa. E nada de saneamento para comunidades carentes.

Por todas essas razões, apesar da pressão e chantagem do governador, dos editoriais e noticiários dos grandes meios de comunicação, a greve do dia 3 de outubro teve o mérito de retirar da penumbra e expor à luz do dia os planos privatistas do governador.


Nivaldo Santana
Secretário de Relações Internacionais da CTB e secretário de Movimento Sindical do PCdoB. Foi deputado estadual em São Paulo por três mandatos (1995-2007)

 

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