Artigo - Chefe de gabinete de Zelensky apela por apoio do Brasil, mas esconde papel dos EUA na guerra da Ucrânia

Nesta terça, 13 de junho, a Folha de S.Paulo publica um texto do Chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andrii Iermak, chamado “É chegada a hora de Brasil e Ucrânia se unirem“.

No texto ele faz um apelo para que o Brasil apoie seu país na guerra e mostra o que temos em comum a fim de, talvez, obter empatia do governo brasileiro. Ressalta, desta forma, a questão ambiental e diz que “Os países do hemisfério Sul lutaram contra o colonialismo e ditaduras impostas por outras nações durante parte da sua história. A Ucrânia está fazendo o mesmo”.

É compreensível que o Sr. Iermak defenda seu governo. Porém, seu texto esquece apenas um detalhe desta história. Um detalhe que faz toda a diferença: o papel dos EUA nesta guerra. Se os EUA não existissem, o texto teria embasamento. Mas, eles existem. E como existem! E isso faz com o que os argumentos do Chefe de gabinete sejam o inverso do que o texto diz.

Os países do hemisfério Sul lutaram contra o colonialismo e ditaduras impostas por outras nações justamente porque os EUA estavam por trás, sustentando esse colonialismos e essas ditaduras.

Iermak coloca a questão: “Se a Rússia não for interrompida, como o resto do mundo impedirá que outros regimes semelhantes se repitam na Ásia, África ou América do Sul?”. Mas a África ou a América não abrigarão bases militares na fronteira com a Rússia, como os EUA querem fazer na Ucrânia. Então, não há esse risco.

Logo no início do texto ele diz: “O futuro do mundo livre está sendo decidido neste momento nos campos de batalha da Ucrânia”. Mas, de que mundo livre ele está falando? Do mundo que tem como a maior potência um país que oprimiu tantos outros, bombardeando massivamente inocentes com napalm, como foi feito na Guerra do Vietnã, promovendo ataques ostensivos através de drones, como na Guerra do Afeganistão? O único país do mundo que fez uso da bomba atômica duas vezes seguidas, nas cidades japoneses de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, logo após a Segunda Guerra Mundal? Um país que quer, através da atual guerra, cercar a Rússia e depois a China para se manter como a maior potência?

Por isso, omitir o papel central dos EUA em sua argumentação torna o artigo de Andrii Iermak falso e inválido.


Carolina Maria Ruy
Pesquisadora, jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.

 

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